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Famílias abrem contas bancárias para praticar educação financeira com crianças e jovens

Bancos têm registrado um aumento cada vez maior na abertura de contas voltadas para crianças e adolescentes. Um deles teve um aumento de 40% nesse tipo de cliente no ano passado.

Fazer a gestão do próprio dinheiro e usar o cartão para pagar despesas do dia a dia. Algo comum na rotina de um adulto, e que está cada vez mais presente na vida de crianças e adolescentes. Famílias brasileiras têm utilizado contas bancárias voltadas ao público infanto-juvenil para tornar mais prático o pagamento da mesada e os gastos diários.

A tendência tem crescido. O banco digital Inter conta com mais de três milhões de clientes menores de idade: 36% das contas de crianças e adolescentes foram abertas em 2023.

O C6 Bank afirma que teve um aumento de 40% na abertura de contas na modalidade para este público entre 2022 e 2023. O Nubank também passou a trabalhar com esse tipo de público em 2022 e destaca que, no mesmo período, ultrapassou um milhão e duzentos mil clientes.

Instituições tradicionais como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil também possuem ofertas de contas para clientes menores de 18 anos. Cada banco trabalha com uma idade mínima de adesão das contas. No Banco do Brasil, desde o lançamento, em outubro de 2022, foram abertas mais de 226 mil contas.

Maxnaun Gutierrez, chefe de produtos pra pessoa física do C6 Bank, explica que o aumento teve início depois que as contas voltadas para crianças e adolescentes passaram a ser regulamentadas, em 2019:

“Lá de trás não era permitida a abertura de conta. Era só de adolescente, a partir de 16 anos, com cartão. Com a nova regulamentação, que tem cinco anos, aí sim foi possível abrir uma conta de um CPF de um menor de 16 anos, de um menor de 18 anos. Porém, tendo um tutor que seja responsável pela abertura de conta junto com a criança. Então, a gente conseguiu trazer os benefícios que se tem hoje, e com um propósito de educação financeira”.

A médica Cristiana Queiroz da Silva pretende abrir uma conta para o filho de 15 anos, que hoje usa uma conta no nome dela. Ela conta que com o PIX ficou mais fácil depositar a mesada e o dinheiro para gastos do dia a dia:

“Eu e o pai, a gente ficava olhando um pra cara do outro, e falava assim: tem R$ 50 aí porque a gente esqueceu e ele tem que levar pra escola, tem que fazer isso, no final eles vão no Mc Donalds. E poxa, às vezes a gente não tinha dinheiro físico. Agora com essa questão do pix e da conta ficou mais fácil porque aí eu transfirto, ele transfere. Ele (o filho) sempre pergunta se tem crédito. Tem, tá no final do mês, mas espera aí, eu vou te passar R$ 40. Então é isso, ficou uma forma mais fácil pra gente”.

Para a comissária de voo Carolina Morgado, abrir uma conta bancária para a filha foi importante para que ela tivesse noção sobre o dinheiro:

“Eu acho que foi ótimo para que ela tenha essa noção de quanto custa. Então às vezes ela tá com pouco dinheiro na conta e fala, nossa, mas eu não tenho dinheiro pra comprar isso. E eu achei ótimo porque ela tá tento essa noção agora. Do valor das coisas”.

Os gastos são administrados pela própria filha e acompanhados pela mãe, que recebe notificações pelo celular.

A desinger Lisa Valeri abriu uma conta com a intenção de dar maior autonomia ao filho de 12 anos. Para ela, a ação se tornou uma experiência de educação financeira:

“Ele pode investir em CDB e tal. Eu achei isso muito legal pra ele entender. Se eu colocar e guardar esse dinheiro, vai render tanto. Se eu não guardar… então vira e mexe eu vejo notificação de que o Miguel aplicou não sei quanto, o Miguel tirou não sei quanto. Ele vai administrando o dinheiro dele e guardando. Se ele quer comprar alguma coisa, ele sabe que na conta dele, ele precisa acumular tanto de dinheiro. Então, ele vai administrar. Foi pra dar mais autonomia pra ele, pra ele começar a se familiarizar com o dinheiro”.

O professor e analista Eduardo Mira, da Me Poupe, afirma que as contas ajudam os jovens em um processo importante da educação financeira, que é a manipulação do dinheiro:

Foi o caso da Valentina, filha do empresário Rogério Flória, que passou a entender melhor o valor do dinheiro depois de gastar quase toda mesada de uma só vez:

“Ela foi usar o cartão no restaurante com os amigos e gastou quase o valor total. E aí eu expliquei para ela, eu falei, olha, nós estamos no dia 5 do mês, certo. O papai acabou de depositar para você e você já tem aqui só 10% do que eu depositei. Como que você vai fazer agora para controlar os seus gastos durante o mês? A partir disso, ela começou a entender um pouco melhor o valor que as coisas têm”.

Para o educador financeiro Reinaldo Domingos, quanto mais cedo a criança tiver acesso a oportunidades de educação financeira, mais facilmente ela terá uma relação saudável com o dinheiro

“A importância dela se educar o quanto antes. E quando a gente fala se educar financeiramente, não é que ela tem que saber que dinheiro só juros é quando você aplica o dinheiro, o banco paga uma parte de juros, cresce o seu dinheiro. Essa é uma parte. A outra é se eu gastar mais do que eu recebo, eu vou ficar sem dinheiro, ponto. Outro ponto é sempre colocar na mão dessa criança o recurso financeiro, implementar alguns caminhos para que ela possa entender que o dinheiro não aceita desaforo”.

O especialista alerta, porém, que é necessário que os responsáveis orientem e criem critérios para os gastos dos filhos.

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