Quanto maior o tempo de investimento, maior será o retorno, já que os juros começam a agir sobre o valor acumulado, e não sobre o investimento inicial
Élida Oliveira, especial para o Bora Investir
Quem investe busca acumular patrimônio da maneira mais eficiente possível, e uma forma de otimizar essa valorização é saber usar os juros compostos a seu favor. Ter um rendimento à base de juros compostos significa que o investimento irá render um X% de juros em um mês e, no mês seguinte, irá render o valor inicial, mais o valor X do rendimento.
Por exemplo: se você investe R$ 1.000 com juros de 10% ao ano, terá um rendimento mensal de 0,83%. Ao fim do primeiro mês, seu investimento vai valorizar e chegar a R$ 1.008,33. No segundo mês, ele vai valorizar em cima dos R$ 1.008,33 – e não sobre os R$ 1.000 iniciais.
“A força dos juros compostos está no tempo. Quanto mais tempo eu o deixo agir, mais retorno eu terei. Por esse motivo, quanto antes a pessoa começar, menos ela precisará poupar, já que terá o tempo a seu favor”, explica Cintia Senna, planejadora financeira e conselheira fiscal da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros).
Há investimentos que já operam desta forma – como de renda fixa –, e outros que pagam o rendimento ao investidor, depositando em sua conta a depender da valorização daquele ativo. Isso dá ao investidor a opção de reinvestir o valor pago, trazendo a filosofia dos juros compostos para a carteira como um todo.
“Os juros compostos, de forma resumida, nada mais são do que o juro que eu recebo sobre o valor aplicado, mais os juros sobre o rendimento também recebido, ou seja, o juros sobre juros”, diz Senna.
Por onde começar
Senne sugere que o investidor iniciante dê seus primeiros passos em produtos em que a rentabilidade é previsível, como a renda fixa.
Os investimentos mais comuns que trazem em sua composição a aplicação dos juros compostos são:
- Títulos Públicos (como o Tesouro Direto)
- Títulos Privados (como a Caderneta de Poupança, CDB, LCI, LCA)
- Crédito Privado (Debêntures)
- Fundos de Investimentos (principalmente os que tenham em sua composição os títulos citados anteriormente)
- Fundos de renda fixa
- Previdência Privada (com foco maior em renda fixa)
Investimentos como ações, fundos imobiliários, imóveis, criptoativos, fundos de ações, fundos cambiais, entre outros, têm rendimento variável e não seguem a regra dos juros compostos. Para se beneficiar deste acúmulo de patrimônio, seria preciso reinvestir os rendimentos gerados por essas classes de ativos, alerta Senna.
Juros compostos e tempo de investimento
A pedido do Bora Investir, Cintia Senna fez uma simulação do efeito dos juros compostos nos investimentos para alcançar uma quantia de R$ 100 mil em um ano, 10 anos e 30 anos. Ela considera um rendimento mensal de 0,85%, o que corresponde a cerca de 10% ao ano.
Para juntar R$ 100 mil em 12 meses (um ano), Senna estima que seria necessário fazer aportes mensais de R$ 7,9 mil. Neste cenário, só de juros compostos, o valor acumulado seria de R$ 4,5 mil – ou 4,5% do investimento. Sem os juros compostos, para chegar a R$ 100 mil no mesmo tempo, seria preciso guardar R$ 8,3 mil ao mês.
Considerando um período maior, de 10 anos, o efeito dos juros compostos pode ser melhor percebido. A simulação de Senna mostra uma redução no valor do investimento, que iria para R$ 482 por mês, para chegar à quantia desejada. Neste caso, R$ 42 mil seriam acumulados só pela ação dos juros compostos – 42% do total. Sem os juros compostos e sem considerar nenhum rendimento, o investimento mensal no mesmo período seria de R$ 833.
Em 30 anos, contando com um tempo maior a favor do investidor, a ação dos juros compostos é ainda mais expressiva. Para chegar a R$ 100 mil neste período, seria preciso investir R$ 42,39 ao mês. Ao longo do tempo, R$ 78,1 mil seriam acumulados só com juros compostos, ou 78% do total. Sem juros compostos e sem rendimento sobre o capital acumulado, seria preciso guardar R$ 333 ao mês.
Confira os números na tabela abaixo:
Como acumular R$ 100 mil | |||
Período | 12 meses | 120 meses | 360 meses |
Aporte mensal (com juros*) | R$ 7.950,89 | R$ 482,61 | R$ 42,39 |
Aporte mensal (sem juros) | R$ 8.333,33 | R$ 833,33 | R$ 333,33 |
Aporte acumulado (com juros) | R$ 95.410,72 | R$ 57.912,88 | R$ 15.259,16 |
Rendimento dos juros* | R$ 4.589,28 | R$ 42.087,12 | R$ 78.148,78 |
*Considerando juros mensais de 0,85% ao longo do período | |||
Fonte: Cintia Senna, Abefin |
Mas, por que essa opção de juros compostos não aparece nas sugestões da minha carteira de investimentos?
As opções que o investidor irá encontrar na carteira de investimentos serão as de juros prefixados, pós-fixados, prefixados + pós-fixados e variável. Os juros compostos são um conceito matemático que opera dentro dessas opções.
Juros prefixados são quando o investidor já sabe o quanto irá receber ao final do prazo do produto contratado, como por exemplo, um CDB (Certificado de Crédito Bancário) que promete pagar 10% ao ano.
Juros pós-fixados são aqueles que atrelam o rendimento a um indicador de mercado, que pode ser o IPCA, IGPM, CDI, por exemplo. São os casos de CDBs que rendem 100% do CDI.
Há ainda investimentos que pagam rendimentos mesclando o prefixado com pós-fixado, como um CDB que renda 6% ao ano, mais o IPCA.
E, por fim, há investimentos com juros variáveis, como as ações, em que não sei qual será o rendimento daquele ativo com o passar do tempo, já que os papéis podem valorizar ou depreciar, e os dividendos também variam.
São esses conceitos que irão guiar o investidor na escolha dos produtos, explica Senne. Mas saber como operam os juros compostos dentro desses investimentos ajuda a visualizar formas de potencializar os ganhos.
“Todos os investimentos têm a questão dos juros compostos, que é presente com mais êxito em produtos de renda fixa. Nos produtos de renda variável, o retorno terá que ser reinvestido, para trazer essa possibilidade de valorização sobre os ganhos”, afirma.
A escolha do investidor deverá seguir o perfil e o plano de investimentos. “Se meu desejo for de longo prazo e meu perfil for mais agressivo, poderei buscar até produtos que não tem a certeza do retorno, mas que têm possibilidades de retornos até maiores, pensando nesse longo prazo. Porém, se meu perfil for conservador e até moderado, a tendência é se manter nos produtos que trazem já uma apresentação deste retorno esperado”, diz.