Por: Agência O Globo
A casa própria é o sonho de muitos brasileiros: uma pesquisa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostra que mais de 40% da população estava pensando em comprar uma casa ou apartamento. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados para o sonho não virar um pesadelo. Isso porque o caminho para adquirir o imóvel não é tão simples caso não possa comprar à vista. Especialistas explicam que é preciso avaliar muitos pontos, entre eles pesquisar os juros cobrados pelas instituições financeiras – que variam de 2,9% a quase 10% –, fazer um raio-x da própria situação financeira para poder definir até quanto poderá arcar com o pagamento de parcelas.
Uma dica para quem não tem casa própria: se o valor da prestação mensal for igual ao gasto com o aluguel, o ideal é entrar no financiamento e pagar o próprio bem. Há quem tenha ainda a opção de comprar um imóvel na planta, neste caso é preciso seguir algumas orientações.Continua após a publicidade
— Hoje a alternativa que mais vem conquistando os brasileiros para aquisição de imóveis é o financiamento, que é uma opção de compra interessante, mas faço um adendo: ao comprar uma casa financiada, é preciso ter ciência de que se firmará um compromisso mensal — explica Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira.
— A orientação que sempre dou para poupar é fazer uma estimativa dos gastos totais, avaliar quanto falta para atingir o montante e diagnosticar quanto pode ser guardado por mês para dar conta das despesas — ensina.
Domingos pontua que é importante saber que existem os juros que, somados ao longo do contrato, podem significar o pagamento de até duas ou três casas.
— Se o valor do aluguel for igual ao da parcela do financiamento, ótima iniciativa é deixar de pagar esse valor sem retorno futuro para pagar a prestação de algo que será seu — conta Domingos.
De acordo com ele, uma alternativa para quem não tem urgência em mudar e tem disponibilidade de uma verba de investimento mensal é o consórcio. Neste caso, se pagará menos e, se tiver sorte, poderá ser sorteado e ganhar a casa rapidamente, além de também poder economizar para dar um lance.
— Grande problema enfrentado para a realização do sonho de uma casa própria são as dívidas sem valor, aquelas contraídas nas compras de produtos e serviços que muitas vezes não agregam valor. Elas acabam desequilibrando o orçamento financeiro mensal e com isso o consumidor perde o foco no bem de valor, que é a casa — acrescenta.
Oito passos para adquirir o imóvel
• Reúna a família e converse sobre este tema, definindo o lugar, valor e as reais condições que se encontram.
• Ponto a ser levando em conta é o custo de vida da região em que irá mudar, que pode ser mais alto que o atual. Também considere os gastos com transporte.
• Analise o valor do aluguel que está pagando e se for o mesmo valor da prestação de um financiamento, poderá ser uma opção financiar o imóvel.
• O melhor caminho é poupar parte do que ganha, portanto faça uma simulação em qualquer banco de quanto custaria a prestação deste imóvel e comece a guardar em um investimento conservador como poupança, CDB ou Tesouro Direto.
• Lembre-se que o financiamento de um imóvel é considerado uma dívida de valor, por isso deve ser protegida e garantida, uma prioridade frente as demais despesas mensais.
• Tenha sempre uma reserva estratégica, para que em uma eventualidade não deixe de honrar este importante compromisso.
• Caso não esteja conseguindo pagar a prestação da casa própria é preciso rever imediatamente os gastos, em especial as pequenas despesas, que somadas podem levar uma família ao desequilíbrio financeiro.
• Nunca se esqueça que um novo imóvel demanda novos custos, como mobiliário novo, condomínio, taxas de transferência, etc.
Cuidados com a compra na planta
Os consumidores que tiverem um dinheiro extra e pensam em comprar um imóvel ainda na planta podem obter algumas vantagens. Mas, pelo fato de a obra ainda não estar finalizada, é importante adotar alguns cuidados antes de decidir pela compra.
— A apresentação do projeto é o ponto inicial, é o momento em que o comprador vai ter o primeiro contato com o seu sonho. Por isso, ele precisa analisar todos os pontos mostrados pela construtora para garantir que aquela é a melhor opção para ele — comenta Caio Lotti, gerente executivo comercial da Bild e Vitta.
De acordo com o executivo, o consumidor precisa estudar o projeto apresentado pela construtora e entender, por exemplo, quais serão os materiais utilizados ao longo da obra, pois este é o momento de conhecer o cronograma para a entrega do imóvel, perspectivas de espaço e tirar dúvidas. Isso acontece, pois, nesta fase, não é possível visitar, ver ou tocar as instalações do futuro lar. Todo o contato acontecerá por meio de fotos, vídeos e demais materiais de divulgação fornecidos pela empresa responsável pelo empreendimento no plantão de vendas.
Outro ponto a ser analisado é o custo-benefício. Segundo Lotti, devem ser observados os seguintes fatores: localização, tamanho da casa ou apartamento, prazo de entrega da obra e qualidade de acabamento.
— Fazer essa análise pode variar de um imóvel para o outro, mas é importante considerar o potencial de valorização e a destinação futura que o comprador vai dar para a residência, ou seja, se será utilizado para locação ou o lar da família — diz.
O prazo de entrega da obra, diz Lotti, é um requisito que precisa ser analisado antes do fechamento do negócio, lembrando que devido a fatores externos o período pode ser prolongado.
— A escolha da construtora é um fator de extrema relevância, pois a empresa responsável tem relação direta com a segurança e a garantia de recebimento do empreendimento. Por isso, é importante que o interessado faça uma busca por informações legais da construtora, verifique imóveis entregues, converse com outros compradores e avalie a reputação da empresa frente ao mercado — orienta Lotti.
O executivo alerta:
— A leitura do contrato deve acontecer de forma minuciosa. O comprador precisa ler atentamente todas as cláusulas e, em caso de dúvidas, procurar o responsável da empresa para saná-las. Pois, o documento de compra e venda oficializa a negociação entre a pessoa e a construtora, após a assinatura torna-se obrigatório o cumprimento dos requisitos e obrigações — finaliza.
Atenção aos juros
Quem quiser entrar em financiamento deve estar atento aos juros cobrados pelas instituições financeiras. Isso porque o aumento da taxa básica de juros (Selic), que passou de 9,25% para 10,75% ao ano, pode impactar as taxas. A cada variação de 2,5% na Selic há o aumento de 1 ponto percentual no Custo Efetivo Total (CET) no financiamento do imóvel, explica Alberto Ajzental, coordenador do curso de desenvolvimento de negócios imobiliários, da Fundação Getulio Vargas (FGV). De acordo com ele, o valor representa o total pago em parcelas, o que inclui juros, taxas, encargos, tributos e seguros.
Adquirir o imóvel fica mais difícil com a Selic em alta porque ela afeta consideravelmente o valor da parcela. Ajzental calcula que quando a taxa estava em 2%, o valor da primeira prestação de um imóvel de R$ 250 mil financiado em 20 anos era de R$ 2.191, totalizando R$ 363.033 ao fim do contrato. Mas com a Selic em 10,75%, o mesmo imóvel tem como primeira parcela o valor de R$ 2.725, uma diferença de R$ 534. Com isso, o valor total do bem passará para R$ 427.047, ou seja, R$ 64.014 a mais.
O EXTRA consultou os cinco maiores bancos do país e listou as taxas de juros cobradas em financiamento imobiliário. Em todos eles é importante frisar que o financiamento se limita a 80% do valor do imóvel e, dependendo do relacionamento do cliente com o banco, os juros podem variar.
Taxas
A Caixa Econômica, por exemplo, oferece mais modalidades de financiamento imobiliário. Na linha TR a Caixa oferece juros mínimos de 8% ao ano mais a taxa referencial e juros máximos de 8,99% ao ano. Já a linha IPCA tem juros mínimos de 3,95% ao ano mais inflação e juros máximos de 4,95% (a.a.) mais a inflação. Confira na linha Poupança: juros mínimos de 2,95% ao ano mais o rendimento da poupança e juros máximos de 3,79% (a.a.).
Já o Banco do Brasil oferta a linha TR com juros a partir de 7,99% ao ano mais a TR. No Bradesco a linha Poupança está com juros a 2,99% ao ano mais a remuneração da poupança. No Itaú os juros na linha TR estão a 9,10% (a.a.) + taxa referencial. Na linha poupança os juros são 2,99% mais o rendimento da poupança. O Santander cobra juros a partir de 9,99% + TR.