Os trabalhadores do setor privado vão poder renegociar o empréstimo consignado antigo por outro em melhores condições no novo modelo de crédito com desconto em folha que está sendo finalizado pelo governo. O empregado de empresa privada também poderá trocar outro tipo de empréstimo mais caro, o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) pela nova modalidade, com taxas mais baixas.
Nos dois casos, a nova operação terá que ser mais atraente para o tomador. Para especialistas, a nova modalidade de empréstimo consignado para trabalhadores do setor privado vai ampliar o acesso ao crédito no país. Mas eles ressaltam que os trabalhadores precisam ter cautela.
Essa modalidade de consignado já existia, mas era restrita a grandes empresas, que têm convênios com bancos para o pagamento da folha.
— Acredito que as taxas ficarão mais competitivas. Se um banco cobrar juros altos, o cliente poderá buscar uma alternativa mais barata em outra instituição. Com a concorrência, os bancos precisarão oferecer melhores condições para atrair clientes, especialmente porque o crédito consignado tem garantia de pagamento — diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
A taxa de juros, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), “dependerá da política de crédito de cada instituição financeira ofertante da nova linha”. Para isso, os bancos levarão em conta fatores como a estrutura de custos e a modelagem de risco.
A Febraban destacou ainda que “os bancos estarão empenhados em oferecer condições financeiras mais favoráveis na concessão do novo consignado.”
Para Oliveira, ainda não está claro como será a integração dos bancos com o eSocial, mas ele considera que esta é a forma mais viável para as instituições identificarem possíveis clientes e definirem o limite de comprometimento da renda. Um processo semelhante ao do INSS, diz.
O especialista aponta ainda que a medida terá como efeito imediato da medida a busca ativa dos bancos por novos clientes:
— Assim que a MP entrar em vigor, é provável que os bancos comecem a procurar os clientes. Para aqueles que já possuem um crédito contratado, acredito que as instituições financeiras vão apresentar condições mais vantajosas para evitar perder o cliente para a concorrência.
Apesar de o consignado ser uma modalidade de crédito com taxas menores, especialistas recomendam cautela ao contratá-lo, já que uma parte do salário fica automaticamente comprometida. Myrian Lund, planejadora financeira e professora de Finanças na FGV, vê risco de maior endividamento:
— O principal problema atendido pela Defensoria Pública hoje é de pessoas que têm crédito consignado. A taxa de juros é menor, o que é um ponto positivo. No entanto, em um país com baixa educação financeira, essa facilidade pode levar a um aumento significativo do endividamento.
Ana Rosa Vilches, diretora da DSOP Educação Financeira e especialista em comportamento financeiro, cita ainda o problema da demissão.
— Na maioria dos casos, se o trabalhador for demitido, ele terá de quitar o saldo devedor na íntegra. Isso pode levar a um descontrole financeiro total.
Ela ressalta que o trabalhador deve ter cuidado antes de tomar o consignado.
O novo consignado será criado por medida provisória (MP) a ser editada antes do carnaval. A expectativa é que o novo sistema comece a operar em meados de março. O novo modelo irá integrar base de dados do eSocial e permitir que os trabalhadores tomem empréstimo em qualquer banco.
Recomendações na hora do empréstimo
Faça um diagnóstico financeiro
- Antes de solicitar o empréstimo, é essencial avaliar sua situação financeira, entendendo para onde vai cada centavo. Se você tiver outras dívidas, dê prioridade a quitá-las.
Não comprometa todo o salário
- Como as parcelas do empréstimo consignado são descontadas diretamente da folha de pagamento, é importante ter em mente que até 40% do seu salário ficarão comprometidos. Ajuste seu orçamento para ter dinheiro para as despesas essenciais.
Cuidado com a bola de neve
- É comum recorrer ao consignado para quitar dívidas de cheque especial ou cartão de crédito. Mas isso pode apenas prolongar o ciclo de endividamento. Procure entender a verdadeira causa de seus problemas financeiros.
Use de forma pontual
- O consignado só deve ser usado em situações excepcionais e para objetivos específicos, como quitar dívidas urgentes com juros altos ou fazer um investimento relevante.
Pesquise a portabilidade
- Se encontrar juros menores em outra instituição financeira, considere a portabilidade do crédito.
Atenção às taxas de juros
- Mesmo mais baixos, os juros do consignado podem ser uma parte significativa da dívida. Busque as melhores condições possíveis.