Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 78,1% das famílias brasileiras afirmaram ter dívidas a vencer no mês de março, enquanto 28,6% disseram estar com débitos atrasados.
Entre as modalidades de dívidas, o cartão de crédito lidera o ranking, representando 86,9% do total. Na sequência aparecem o crédito pessoal, seguido pelos financiamentos imobiliário e de carro. Diante desse cenário alarmante, fica a dúvida sobre quais caminhos seguir para conquistar uma vida financeira mais equilibrada.
Especialistas e órgãos da área financeira e de defesa do consumidor afirmam que a renegociação de dívidas é uma das alternativas para aliviar o orçamento mensal e sair de uma vez por todas do time dos inadimplentes.
O PhD em educação financeira e presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin), Reinaldo Domingos, reforça a informação, mas alerta que é preciso um planejamento adequado para renegociar dívidas e honrar os acordos. Segundo ele, é preciso evitar decisões precipitadas que possam agravar ainda mais a situação financeira do devedor.
“É preciso avaliar, cuidadosamente, a troca de dívidas, pois a estratégia pode não ser a melhor alternativa. O crédito consignado, por exemplo, oferece juros mais baixos, mas é essencial considerar os impactos de uma redução na renda mensal”, alerta.
Para quem está decidido a renegociar as dívidas, especialistas sugerem fazer algumas perguntas junto ao credor antes de colocar o plano em prática, como por exemplo: qual é o desconto que vou ganhar sobre a dívida total? Ganho mais desconto se pagar à vista? Quais são os juros se eu parcelar? Em quanto tempo terei minha situação regularizada após o pagamento?
Educação financeira para evitar o endividamento
Para Domingos, a única forma de reverter o cenário de endividamento no país é investir em educação financeira. Ele avalia que capacitar as pessoas para gerir suas finanças de forma consciente é o caminho mais saudável para uma vida financeira equilibrada.
Com as dívidas pagas, a pessoa pode, até mesmo, começar um planejamento para investir. A recomendação é iniciar uma reserva financeira, escolhendo uma das muitas modalidades disponíveis no mercado, como Tesouro Direto, Certificado de Depósito Bancário (CDB), entre outras opções de produtos em renda fixa, considerados mais seguros em comparação com os investimentos em renda variável.
O planejador financeiro Carlos Castro alerta, porém, que nenhum investimento é capaz de cobrir os juros de uma dívida alta. Segundo ele, se a pessoa tem o dinheiro em mãos, é melhor pagar a dívida para reduzir os juros. Portanto, o investimento é uma etapa posterior à quitação das dívidas.
Governo Federal cria programa de renegociação de dívidas
Recentemente, o Governo Federal lançou o Programa Desenrola, instrumento que incentiva a regularização de dívidas bancárias e não bancárias de pessoas físicas, que estão negativadas nos órgãos de proteção ao crédito.
O programa foi prorrogado até 20 de maio para alcançar mais pessoas cadastradas na Faixa 1, que são aquelas com renda bruta mensal de até dois salários-mínimos ou que estejam inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
Podem ser renegociadas as dívidas que tenham sido negativadas de 2019 a 2022, e cujo valor atualizado seja inferior a R$ 20 mil. Segundo dados do Serviço de Proteção ao Consumidor (SPC), o valor médio das dívidas dos consumidores brasileiros supera um pouco mais de R$ 4 mil.
Ao todo, o programa já renegociou mais de R$ 29 bilhões em dívidas e beneficiou 11 milhões de endividados, de acordo com o último balanço divulgado pelo Ministério da Fazenda.
Fonte: Ana Beatriz Medina