ABEFIN

NOSSO BLOG

Imóveis: setor sofre impactos dos juros altos

Por: SIMON NASCIMENTO / Site: O Tempo

A elevação da taxa básica de juros, a Selic, em 10,75% ao ano gera um efeito cascata na vida dos brasileiros. Com o aumento no índice, alçado para tentar frear a inflação, também sobem as taxas para empréstimos, uso do cheque especial, rotativo do cartão de crédito e financiamentos automotivos e imobiliários. Nesta última modalidade, o arrocho já resulta na revisão de lançamentos de habitação popular que estavam previstos em Belo Horizonte. 

O balanço é do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), que está receoso com a alta do índice. Conforme a entidade, nos residenciais que permanecem à venda, os valores também subiram. A situação é mais prejudicial às famílias de baixa renda, que têm dificuldade em absorver, no orçamento, os valores previstos no Custo Efetivo Total (CET) dos parcelamentos, mesmo utilizando de programas sociais como o Casa Verde e Amarela. Na iniciativa, as taxas de juros variam, conforme a Caixa Econômica Federal, entre 5,25% a 7,66% ao ano. 

De acordo com o presidente do Sinduscon, Renato Michel, o temor é de que o setor da construção civil sofra uma estagnação com as novas taxas. Em 2020 e 2021, foram registrados os melhores resultados de vendas de imóveis desde 2016 em BH. “O mercado continua aquecido, mas a gente começa a ficar preocupado, acendeu a luz amarela. Porque o imóvel que o cliente gostou pode ficar fora da capacidade financeira, uma vez que só pode comprometer 25% da renda em financiamento”, afirma. 

Um dos prejuízos que o presidente do Sinduscon teme é na desaceleração na construção de novos empreendimentos e, com isso, cessar a geração de empregos, que também registrou alta nos últimos dois anos. “Nós estamos enfrentando um aumento dos materiais de construção e subiu muito o custo. Já está inviabilizando alguns empreendimentos e acaba comprometendo, principalmente, as habitações de interesse social”, explica. 

O bailarino Alec Santino, de 25 anos, já notou a diferença dos valores na pele. Desde o segundo semestre de 2021, busca um imóvel para comprar. No ano passado, a faixa de preço encontrada para um apartamento de dois quartos, que está inserido no programa habitacional da Caixa, estava variando entre R$ 140 mil a R$ 160 mil, hoje os imóveis estão na faixa de R$ 190 mil a R$ 200 mil. “Pretendo esperar um pouco mais, me manter no aluguel, porque as condições não estão atraentes”, lamenta. 


Diferente.Para o auxiliar administrativo Marcos dos Santos Rocha, de 23 anos, a situação foi diferente. Ele e a noiva, Amanda, compraram um apartamento no ano passado por R$ 166 mil. “Assim que fechamos, passaram três meses, e o preço foi para R$180 mil. Se fosse hoje não teríamos comprado”, analisa. 

O corretor de imóveis Gabriel Vinícius, de 34 anos, trabalha com venda de imóveis populares em BH. O profissional relata que notou queda na procura por novos imóveis desde o ano passado. Ele observou que os preços das habitações residenciais registraram aumento nos últimos meses.

Balanço
O Banco do Brasil encerrou o quarto trimestre de 2021 com lucro líquido ajustado de R$ 5,930 bi, alta de 60,5% ante mesmo período de 2020 e de 15,4% na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

Automóveis: preços estão em disparada

Outro setor da economia responsável por grandes financiamentos e que também sente a elevação da Selic é o automotivo, que acumula resultados negativos desde o ano passado. Janeiro de 2022, inclusive, foi o pior para a produção de automóveis no Brasil, com queda de 27,4% se comparado com o mesmo período do ano passado. Com a produção de automóveis em baixa, os veículos zero-quilômetro estão sendo comercializados a preço de ouro. 

Brasileiro recorre ao fundo da poupança

O Banco Central registrou, em janeiro deste ano, o maior saldo negativo da poupança de sua série histórica, iniciada em 1995. Conforme dados da instituição financeira, os brasileiros depositaram cerca de R$ 260,4 bilhões nesse tipo de investimento, mas retiraram aproximadamente R$ 280,1 bilhões, o que resulta numa diferença de quase R$ 19,7 bilhões – o maior da história. Mas o que levou os brasileiros a tirar muito mais dinheiro da poupança que depositar? 

Para a economista Luscimeia Reis, da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), os saques em alta acompanham as contas da virada do ano, principalmente o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), material e matrícula escolar e o Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA), que começa a ser pago em Minas Gerais no mês que vem. 

“O recurso que estava planejado para entrar não foi suficiente para arcar com as despesas fixas e variáveis das famílias. Até porque ainda tinha os boletos dos cartões (de crédito) de dezembro, que se juntaram com os compromissos financeiros de janeiro, que já são maiores”, avalia. 
Historicamente, os saques da poupança sempre aumentam em janeiro por conta dessas contas a pagar. Números do Banco Central mostram isso: houve saldo negativo nos últimos quatro anos no primeiro mês. 

Como parte dos impostos ainda não foi paga, como o IPVA em Minas, por exemplo, é possível que essa retirada da poupança se prolongue para os próximos meses, principalmente fevereiro e março. 

Selic em alta

Evolução da Selic em um ano 

Janeiro 2021 – 1,90%
Março 2021 – 2,65%
Maio 2021  – 3,40% 
Junho 2021 – 4,15% 
Agosto 2021 – 5,15%
Setembro 2021 – 6,15%
Outubro 2021 – 7,65%
Dezembro 2021 – 9,25% 
Fevereiro 2022 – 10,75%

Condições de financiamento ‘Casa Verde e Amarela’

Famílias com renda bruta de R$2.000 mil até R$4.000 mil – taxa de juros pode chegar a 5,25% ao ano 

Famílias com renda bruta de R$4.000 mil até R$7.000 mil – taxa de juros pode chegar a de 7,66% ao an0

Valor máximo do imóvel para financiamento é R$264 mil

Fontes: Copom/Banco Central/ Caixa Econômica Federal

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Posts Recentes: