Faz parte do senso comum dizer que é preciso começar a poupar desde cedo para que se possa desfrutar uma velhice estável sem apertos financeiros. Porém, devido a uma série de fatores como crises econômicas, precarização do trabalho, perda de direitos e de poder aquisitivo dos salários, a concretização da ideia comum em gerações anteriores de alcançar a estabilidade aos 30 ou até 40 anos de idade tem se tornado cada vez mais difícil.
No entanto, se o sonho da estabilidade não se concretiza no tempo planejado, isso não quer dizer que ele deva ser abandonado. Cada um pode buscar a realização de seus sonhos por meio da adoção de comportamentos que o ajudem a ter estabilidade financeira. Nesse sentido, entra a educação financeira.
“A questão comportamental é um fator decisivo para alcançar a estabilidade financeira. Para se ter uma ideia o endividamento entre o grupo que recebe de três a cinco salários chegou a 77,8% e para aqueles com renda acima de 10 salários alcançou o índice de 75,3% na última pesquisa PEIC, divulgada do dia 04 de maio, pela Confederação Nacional do Comércio. Esses dados sinalizam que a questão vai além da renda, está nos hábitos e padrão de consumo”, afirma a educadora financeira Simone Sgarbi.
“Quando eu era jovem, imaginava que aos 40 anos de idade já estaria com a vida toda resolvida, só usufruindo das minhas conquistas”, relata. Porém, não foi isso que aconteceu. “Cheguei aos 40 anos endividada, perdida em vários aspectos da minha vida pessoal e profissional. A sensação de fracasso bateu forte”, conta.
Sgarbi diz que, ao conversar com jovens universitários em palestras, é muito comum ela ouvir que eles acreditam que já estarão com uma situação financeira mais confortável após os 30 anos. “Quando questiono o que é isso, eles elencam bens de consumo como casa, carro, celulares e viagens, mas raramente alguém fala sobre segurança financeira ou tem um projeto claro para investir a longo prazo para alcançar esses objetivos”.
Orientações financeiras
O processo de educação financeira exige uma mudança de hábitos e a elaboração de metas e dos meios para alcançá-las. “Para se investir bem é preciso responder as perguntas ‘qual é a finalidade desse investimento?’ e ‘por quanto tempo eu quero guardar?’”, defende Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin).
Domingos adota a metodologia DSOP (diagnosticar, sonhar, orçar e poupar) e diz que a grande dificuldade é criar um orçamento que priorize esses desejos e necessidades ao mesmo tempo. “A pessoa que só pensa a longo prazo não vive o presente e aquele que só pensa a curto prazo jamais terá uma longevidade sustentável. Assim, aquele que pensa em todos os prazos ao mesmo tempo estará sempre motivada e fazendo com que seus recursos sejam previamente destinados antes que sejam gastos”.
Segundo ele, é especialmente importante para aqueles que têm mais de 40 anos abandonar a dinâmica “ganha, gasta, se sobrar faz algo e se faltar busca-se crédito”.
“O que eu recomendo é o seguinte: ganha-se o dinheiro; depois vem os sonhos de curto, médio e longo prazo; em seguida as necessidades (aposentadoria, por exemplo); as prestações que eu já assumi; depois as reservas financeiras que preciso fazer; e em último lugar vem os gastos corriqueiros (contas, comida, roupas, educação, etc.). Nós devemos ter um orçamento que priorize o que viemos fazer na Terra, que é ser feliz e realizar nossos sonhos”.
Para Sgarbi, a primeira ação para conseguir guardar dinheiro e se planejar financeiramente é fazer um orçamento detalhado dos gastos, começando pelos extratos bancários e faturas de cartão de crédito dos últimos três meses, por exemplo, e separando os gastos por categorias. Depois disso deve-se renegociar todas as contas fixas e listar ações práticas para redução das contas variáveis.
Nesse momento é importante criar fontes de renda extra pensando nas habilidades e rede de relacionamento que a pessoa possui e, se mesmo assim ela não conseguir achar espaço para investir, é porque o indivíduo está vivendo além das suas capacidades, sendo necessário “dar um passo para trás” diminuindo seu padrão de vida ou aumentando seus rendimentos.
“É importante viver sempre um degrau abaixo do que seu salário permitiria, pois isso abre espaço para que a pessoa invista na criação de uma reserva de emergência e em meios para alcançar a tão sonhada estabilidade”, diz ela.
Cuidados com a saúde
Quanto mais velhos as pessoas ficam, maiores são os cuidados necessários com a saúde. “Por isso, quando o assunto é saúde, é imprescindível ter reservas de emergência de pelo menos três a seis salários mínimos que te permitam ter liquidez rapidamente (Selic, poupança, CDB diário, por exemplo) caso surja uma necessidade”, alerta o presidente da Abefin.
Sgarbi conta que, quando seu pai ficou doente, ela não teve recursos para ajudá-lo e pensou ter atingido o “fundo do poço”. “Só pensava a respeito do que eu tinha feito com a minha vida. Por isso, a reserva de emergência é muito importante para esses momentos, assim como estar com o INSS em dia e ter um plano de saúde. Um seguro para acidentes pessoais e doenças graves também são ferramentas que proporcionam maior tranquilidade nessas horas”, conclui.