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Como se preparar financeiramente para morar sozinho

Por: Natalia Nora / Site: CNN Brasil Business

Morar sozinho é o plano de muitos jovens adultos, mas é preciso se organizar para que isso se torne uma realidade sustentável financeiramente.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em 2017, 79% dos entrevistados não se planejaram financeiramente para sair da casa de suas famílias. Por isso, 34% dessas pessoas disseram que a decisão de morar sozinhas contribuiu para que o orçamento estabelecido fosse extrapolado.

Especialistas consultados pelo CNN Brasil Business explicam o que é preciso levar em consideração para montar um orçamento e realizar essa mudança de forma segura para o bolso.

Primeira decisão

Para o presidente da Abefin (Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira), Reinaldo Domingos, o primeiro passo deve ser a escolha do lugar em que se deseja morar.

“Mas ainda não estamos falando do imóvel, é preciso escolher primeiro se vai ser em casa, apartamento, kitnet ou pensão, por exemplo. Depois é preciso analisar o entorno”.

A região do imóvel é muito importante para o orçamento, por isso, Domingos explica que o passo de escolha da localização e do tipo de residência é tão importante.
Muitas vezes, o padrão de vida da região em que se mora com a família é bastante diferente do padrão do local escolhido. Isso precisa ser considerado na hora de planejar os gastos.

“Provavelmente vai encontrar um custo de vida mais alto, o que significa que a padaria tem preços mais caros, que o supermercado tem preços mais caros”.

Essa primeira análise precisa de muita atenção e pesquisa, de acordo com o economista do grupo DataZAP+, Pedro Tenório, “neste momento não é necessário buscar um imóvel, mas uma região que atenda às necessidades do locatário, o que pode ser a proximidade do trabalho, de mercados com bons preços, ou uma área mais residencial e calma, por exemplo”.

Para Tenório, o corretor de imóveis é alguém que pode ajudar muito nesse processo com as informações a respeito do local ideal e com maior noção do mercado imobiliário. “Começando com a escolha da região em um raio relativamente amplo, para depois buscar o perfil que atenda as necessidades e o bolso”.

Orçamento financeiro

Ao partir para o orçamento financeiro, segundo Domingos, comece analisando os gastos que existem na residência atual e anote quais deles farão parte da nova casa.

Com as primeiras informações dos custos de cada despesa, é possível começar a imaginar quanto cada item do orçamento vai custar, tendo em vista o padrão de vida da região escolhida.

“É preciso saber exatamente quanto vai custar o imóvel e tudo que o envolve, o que chamamos de custo recorrente, que podem ser fixos ou variáveis”.

Os principais itens que costumam compor o orçamento são energia, água, gás, aluguel, IPTU, condomínio, alimentação, serviços de telefonia, vestuário e lazer.

Domingos explica que os custos fixos são aqueles pré-estabelecidos, que raramente sofrem variações, e quando isso acontece elas são mínimas. Eles podem ser mensais, trimestrais e anuais, por exemplo.

“Nem todos os gastos recorrentes são fixos, por exemplo, o condomínio é um gasto fixo porque raramente sofre alterações, como no caso de reformas, assim como o IPTU e IPVA, para aqueles que possuem um veículo. Mas a energia elétrica, a água e a gasolina, por outro lado, são gastos recorrentes e variáveis, já que os valores mudam de acordo com o consumo do mês.”

O plano de celular é um item que pode ser tanto fixo quanto variável, o diretor explica que planos pós-pagos geralmente fogem do domínio do usuário, que ao longo do mês não costuma consultar valores.

Mas a preferência entre os tipos de planos depende da responsabilidade de cada um, explica Domingos, “é preciso ter uma organização no consumo, existem recursos mais baratos e gratuitos nos planos de celular que evitam a necessidade de escolher os pré-pagos, cujas tarifas são mais altas, a diferença é que a responsabilidade de consumo do pós-pago fica com o usuário”.

Custo recorrente

O valor exato de cada despesa varia de acordo com o consumo de cada um, mas alguns deles podem ser previstos com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada pelo IBGE.

Segundo os dados mais recentes, que analisaram os anos de 2017 e 2018, o impacto médio gerado pelo pagamento da tarifa de água e esgoto é de 0,94% do orçamento familiar, e a conta de energia representa 2,59% do cálculo.

Já o gasto com habitação representa 36,6% do orçamento e impacta diretamente em outros gastos como transporte e alimentação, as duas maiores despesas que vêm a seguir.

“É importante pensar em uma localização que torne os hábitos de alimentação mais baratos e saudáveis, e uma possibilidade para economizar com isso é evitar comprar as refeições em vez de prepará-las”, explica Tenório.

De acordo com o levantamento feito pelo grupo DataZAP+ a pedido da CNN, que considerou apartamentos de um dormitório de cerca de 42m², a média dos preços de aluguel da cidade de São Paulo era de R$ 2.160,06 em dezembro de 2021.

Além do tamanho, os imóveis mais próximos dos chamados “corredores de emprego” costumam ser os que têm os aluguéis mais altos. “Pensando no top 10 bairros mais caros de São Paulo, quase todos eles se concentram próximos a estes centros, com a Vila Madalena sendo uma exceção por ser um pouco mais distante, mas que tem se valorizado muito de uns anos para cá”, diz o economista do grupo DataZap+.

Já os 10 bairros menos valorizados se encontram na periferia da cidade, e “infelizmente não oferecem muitas amenidades, as regiões periféricas costumam ser pouco arborizadas, não costumam ter parques próximos, oferecem uma quantidade pequena de equipamentos públicos e também estão distantes do trabalho”.

Outro gasto essencial no orçamento são os serviços de telefonia e internet, que podem variar de acordo com os planos das operadoras. Atualmente os pacotes mais básicos de internet residencial custam a partir de R$ 50, mas a quantidade de megabytes de internet a ser contratada depende do uso individual.

Jovens que vão trabalhar em casa podem precisar de planos melhores e consequentemente mais caros, mas para aqueles que utilizam a rede apenas para lazer podem optar por pacotes mais específicos, como os que incluem plataformas de streaming.

O presidente da ABEFIN destaca que um dos gastos mais esquecidos na hora de montar um orçamento é aquele destinado ao lazer, em que se enquadram essas plataformas.

Atualmente existem serviços com mensalidades entre R$ 10 e R$ 40 individualmente, mas assinar todos streamings desejados pode gerar um gasto que ultrapassa os R$ 300 com facilidade.

Para garantir as outras formas de lazer, Domingos recomenda que exista uma verba estabelecida no orçamento. “Tudo o que está fora da rotina acaba sendo esquecido e a solução para isso, além de estipular um limite, é a definição das prioridades, as contas e as reservas não podem ser deixadas em segundo lugar”.

Esses momentos geralmente acontecem em ambientes “altamente consumistas”, explica Domingos, “passeios, lanchonetes, baladas e viagens têm gastos pouco previsíveis e que muitas vezes não foram levados em consideração”.

>Por isso, o especialista recomenda que exista um valor mensal destinado ao lazer e que “a partir dele sejam feitos planos para gastar nas diferentes ocasiões.

Apesar de pesquisas apontarem porcentagens destinadas para cada despesa, Domingos considera que se basear em parcelas muito específicas para planejar um orçamento pode ser “um dos maiores erros no que se refere à educação financeira”.

Ele explica que “o percentual nasce do exercício dos custos do orçamento, assim é possível saber a porcentagem destinada a cada item dele, mas isso serve muito mais para análise dos gastos do que como algo que deve ser pré-estabelecido”.

Escolha do imóvel

Alguns custos são bastante subjetivos na hora de escolher um imóvel, Tenório destaca que o tempo economizado no transporte ao alugar um imóvel próximo ao trabalho é algo a ser considerado.

“É preciso pensar no quanto o imóvel vai oferecer em qualidade de vida e considerar o que precisará ser cortado de acordo com os valores que serão pagos”. O tempo de descanso e a proximidade com espaços de lazer promovem um conforto que é acrescentado ao valor do aluguel.

Colocar esses fatores na balança é essencial para definir o custo benefício de um imóvel.

“Um imóvel de um dormitório normalmente tem o valor médio do metro quadrado mais alto do que o de um imóvel de três dormitórios, que são buscados por famílias que normalmente têm essas demandas de lugares mais calmos, menos violentos e com menos trânsito”, explica Tenório.

Por isso, a ideia de dividir um apartamento ou casa com mais algumas pessoas pode ser a solução para os jovens.

Domingos afirma que “o valor do orçamento praticamente se mantém, mas os gastos recaem sobre duas pessoas, facilitando a tomada dessa decisão”.

Entre escolher um local mobiliado e comprar os próprios móveis, Tenório considera que “apesar de ser um pouco mais caro, esse adicional mensal do imóvel mobiliado, tende a compensar o custo de mobiliar a residência”.

Mas, para aqueles que optam por mobiliar, Domingos considera que “não há problema algum em parcelar os móveis e eletrodomésticos que forem necessários para a residência, desde que os valores das parcelas estejam dentro do orçamento estabelecido”.

Reservas

Um dos pontos mais importantes para a mudança é a reserva financeira, Domingos conta que “muitos jovens que não separam esse dinheiro sofrem quando vão para um lugar novo, isso porque criam dívidas para comprar tudo que precisam em uma nova casa e na primeira dificuldade de ganho precisam voltar para a casa dos pais ou responsáveis”.

A reserva serve como uma “blindagem da autonomia”, explica o especialista, e ela deve conter “de cinco a dez vezes o valor do orçamento mensal para garantir a segurança”.

No caso de uma perda de emprego, diminuição de renda ou emergência, as contas recorrentes continuam chegando e a reserva é o que vai fazer a diferença para que a pessoa consiga se manter.

Domingos explica que antes de mudar, é importante fazer uma simulação de todos os gastos do orçamento para ver se a receita é suficiente para arcar com todos os custos.

“Isso é um ponto de atenção para o jovem, se ele ganha, por exemplo, R$ 3 mil e vê que os gastos somam R$ 3,5 mil, ele não está preparado para a mudança”.

Outro problema é o caso de a receita e o orçamento serem o mesmo valor, porque nesse caso falta destinar uma quantia para as reservas. Nesses dois casos, a solução do especialista é cortar gastos e planejar melhor.

As reservas podem ser destinadas a diversas finalidades, como “viagens, sonhos, metas, lazer, reservas para o futuro e até mesmo um valor para a aposentadoria ou independência financeira”, explica Domingos.

Mas é preciso se lembrar dos gastos que acontecem em períodos maiores do que um mês, como o gás, o IPTU e o momento de deixar o imóvel alugado.

A economista do Grupo DataZAP+, Larissa Gonçalves, conta que “as pessoas pensam em alugar, mas esquecem do momento de sair, e pode ser preciso pintar o apartamento e fazer pequenos reparos para entregar o imóvel nas mesmas condições em que ele foi recebido, isso evita problemas com a próxima locação, por exemplo”.

No caso do gás de botijão, o momento em que ele acaba é quase imprevisível, e se não houver um planejamento mensal para a compra de um novo, o orçamento pode ser extrapolado.

O mesmo acontece com o IPTU, Gonçalves explica que “se a pessoa se programar, ela praticamente não vai sentir aquele valor todo mês, porque é muito menor. Mas, assim como o gás, sem planejamento essa conta pode ser muito maior do que o orçamento”.

Esse preparo anterior à mudança pode levar mais de um ano, mas é essencial. “O jovem que tem conhecimento de tudo que vai gastar e com reservas de segurança, não tem preocupações na hora de morar sozinho com autonomia plena”.

*Sob supervisão de Ana Carolina Nunes

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