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Como ir de devedor a investidor! Aprenda com quem saiu da situação de ter o nome no SPC para se tornar investidora e educadora financeira

Consultora de educação financeira da Zetra, Andreza Stanoski transformou os perrengues com dinheiro – e não foram poucos, nem por pouco tempo – em aprendizado. Hoje, formada pela vida e pela academia, dá palestras e consultoria em gestão orçamentária

“Primeiro, a vida deu um chacoalhão. Diante disso, fui buscar conhecimento”. Nas duas frases, a educadora financeira Andreza Stanoski resume a guinada que conseguiu dar em sua vida. De um histórico de perrengues com dinheiro, vivenciados logo aos 18 anos de idade, até se tornar palestrante e consultora em gestão orçamentária, Stanoski, agora aos 42, trocou o sobe e desce da montanha-russa por uma trajetória de ascensão sólida.

Entre outras atividades que exerce, ela atua como consultora de educação financeira na Zetra, empresa fintech que oferece a plataforma eConsig, de gestão de benefícios consignados, para departamentos de recursos humanos. É proprietária também da consultoria Dream Company Finanças e possui a certificação da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin). Escritora, é autora do livro “Trabalhadores não precisam ser pobres”.

Andreza Stanoski Rocha, consultora e palestrante da Zetra

Para a profissional, os “perrengues de cada dia” enfrentados em mais de duas décadas foram importantes para fornecer aprendizados. Contudo, não só. Tão decisivas quanto as experiências empíricas foram, e têm sido, as leituras, o conhecimento formal e a formação acadêmica. “A gente fala que aprende com os erros, mas também a gente costuma esquecer os erros lá de trás. Então, fui atrás de conhecimento também.”

Ela foi despertada para essa necessidade há pouco menos de dez anos, quando recebeu de uma amiga um livro de presente: “Terapia financeira”, de Reinaldo Domingos. Leu. Gostou. Recorreu a indicações que a obra trazia, como de um site especializado. Fez, por lá, um curso de educadora financeira. Depois, uma pós-graduação.

O livro, relembra, trazia uma reflexão: “a partir de hoje, se você não tiver a renda que tem hoje, por quanto tempo dura sua condição financeira?”. Andreza ressalta: “Essa tese do autor me chocou. Foi um ‘acorda’. Se eu não fizer um pé-de-meia, o que será do futuro, daqui dez, 20 anos? Terei que recorrer a bicos a vida inteira? O que deixarei para a minha filha?”

Andreza com a filha: inquietação sobre o futuro levou à mudança

A inquietação com a leitura se somou às malsucedidas experiências envolvendo dinheiro. Justo ela que, no comecinho da adolescência, aos 13 anos, quando começou a trabalhar aos finais de ano para conseguir somas para comprar bicicleta e patins, demonstrava maturidade na lida com as finanças. Afinal, além dos recursos para realizar o sonho de então, ainda fazia economias e poupava. Aos 18 anos já tinha uma reserva considerável para a época. “Eram R$ 2 mil, muito, para quem ganhava R$ 326 por mês”, recorda-se. “Tinha essa mentalidade de guardar; aprendi com o meu pai.”

Sabendo da poupança da jovem, um parente lhe pediu dinheiro emprestado. Não soube dizer não. “Foi o primeiro erro: emprestar para parente. Porque, para não perder o parente, o melhor acaba sendo esquecer a dívida.” Em seguida, conheceu o rapaz com quem namoraria e se casaria. Seguem juntos. O início, entretanto, foi marcado também por dinheiro emprestado.

“Ele queria comprar uma moto, não tinha dinheiro, e como estava com o nome no ‘SPC Serasa’, não podia fazer empréstimo, financiar. Emprestei meu nome para ele. Só que fiquei desempregada e, com a dívida, com o nome no ‘SPC Serasa’, não conseguia obter emprego.” Ou seja, uma bola de neve: de um lado, dívida, em crescimento. De outro, receita, em queda.

Felizmente, a vida entrou nos eixos. O marido empregou-se em uma multinacional, com salário vantajoso, além de uma série de benefícios. Até carro da empresa podia utilizar. “Tinha um cartão de crédito para comprar tudo. E comprava, sem controle, e parcelando, mesmo sem necessidade, sem fazer conta do valor final. Meu marido, todo mês utilizava o cheque especial”, narra.

Em 2012, o marido resolveu pedir demissão da multinacional. “Decidiu que iríamos empreender.” Entretanto, quis começar logo com tudo. Escolheu um prédio refinado, no Tatuapé, em São Paulo, para montar o escritório. “E saiu contratando.” Logo, a bolha estourou. De novo, Andreza Stanoski se via enrascada financeiramente.

Problemas, tensão. Certo dia, a filha, ainda criança, notando as dificuldades dos pais, ofereceu os trocados que guardava em seu cofrinho. “Fez um bilhete, um desenho, e disse que era para nós pagarmos as contas, pararmos de brigar. Não falávamos sobre esses problemas com ela, mas criança é assim, percebe”, conta, com os olhos marejados. “Não tem como eu me lembrar disso sem me emocionar, sem chorar.”

Aos poucos, a situação foi melhorando. A partir de 2015, enfim, estabilidade. Foi o momento do encontro com o livro que recebeu de presente da amiga, da busca por cursos e pela pós-graduação. Eis que veio a pandemia da Covid-19 – que preocupou e abalou. No entanto, desta vez, a equação erros do passado mais conhecimento teórico e formal recém adquiridos proporcionou superar a ameaça de crise, sem traumas.

Por exemplo, a decisão de cortar gastos com moradia. O casal optou por se mudar da capital para o litoral. “Viemos para Ubatuba. Reduzimos de R$ 8 mil para R$ 3 mil as despesas com a casa”, afirma Stanoski. A filha, microempreendedora individual na área de eventos, foi atingida pelos efeitos econômicos da crise fitossanitária. Depois da tormenta, enfrentada com serenidade e organização, a situação está estabilizada.

Em sua avaliação, difundir uma cultura de educação financeira é um dos desafios para o Brasil. É a isso que se dedica. “Depois da pandemia, algumas pessoas ficaram mais atentas [com o tema]. Outras, porém, parece que tiveram amnésia [sobre a importância de cuidar das finanças pessoais]. É preciso ter a consciência da educação financeira”, considera.

Primeiro passo é estabelecer prioridades de gastos, definir objetivos. “Esse é o problema: muitas vezes as pessoas se esquecem daquilo que é o objetivo delas. Então, sem planejamento, partem para gastos inesperados. É fundamental saber qual a prioridade, o que realmente se quer”, sublinha.

Uma dificuldade na promoção da educação financeira, avalia a especialista, é que a pessoa costuma se dar conta de que é importante quando está afundada no caos. Isto é, quando não dispõe de condições para pagar um consultor que dê um norte. Portanto, pontua, a busca por consultoria deve ser feita sempre. “Assim como procuramos médico, advogado, para outros problemas da vida, devemos buscar orientação profissional para cuidar de nossas finanças”, orienta Andreza Stanoski.

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