Por: Direcional Escolas
Um novo debate relacionado a educação financeira vem tomando as redes sociais com a afirmação de que alguns professores são contra o ensino de educação financeira nas escolas. Essa questão foi reportada recentemente em redes sociais afirmando que essa contrariedade ao tema por parte dos professores se dá pelo fato deles acharem que é uma forma de introduzir o capitalismo nas escolas.
Em face a esse questionamento errôneo, no papel de um dos precursores da implementação desses conteúdos nas salas de aulas do ensino básico e tendo estudos e análises aprofundadas sobre o tema, inclusive chegando a nível de PhD na matéria, acho fundamental me posicionar sobre isso.
O intuito aqui é esclarecer que existe um entendimento limitado e, portanto, não raramente equivocado do conceito de educação financeira, como se finanças e educação financeira fossem a mesma coisa – erro, aliás, infelizmente generalizado inconscientemente. O erro não está exatamente em resistir, mas sim em confundir o alvo, ou seja, por ausência de conhecimento sobre o tema, acabamos correndo o risco de fazer gol contra, em dar tiro no pé. Na trincheira, para sobreviver, é essencial distinguir o fogo amigo, distinguir fardas. Como professores, somos conhecedores de nossas áreas de atuação, das experiências vividas em nossa aprendizagem diária e humana. Mas, em conteúdo que não dominamos ainda, devemos assumir certo grau de “analfabetismo”, e é sempre indicado termos muita cautela nessa hora.
De qual Metodologia de Educação Financeira devemos falar quando se trata de crianças e adolescentes aprendendo em escolas? Será que quem opina sobre o assunto realmente buscou conteúdos acordes às diretrizes da BNCC, com embasamento vivencial e também acadêmico e científico reconhecido nacional e internacionalmente? Nas milhares de escolas e colégios dos mais variados perfis, em todo o território nacional, ao longo dos últimos 12 anos, o desafio da educação financeira comportamental, voltada à independência, contra o consumismo e de base humanista, sempre foi o de formar, educar, empoderar e motivar não só alunos e suas famílias, mas também os professores, capacitando-os não só para sua atuação em sala de aula, mas também em seu desempenho familiar, pessoal e comunitário. Esses sim compreendem que Educação Financeira séria e Finanças são bem diferentes.
O que não é vivenciado não é compreendido ou aprofundado, a ponto de se ensinar com convicção. O que não transforma a sua vida, garante sua autonomia, seu espírito empreendedor, seu lado socioemocional realizador, sua capacidade de planejar seus sonhos… não vai mudar ou melhorar seu entorno, seu presente ou seu futuro. Então, sim, entendemos a resistência ao ensino de meras finanças (que se camuflam de “educação financeira”) para crianças e adolescentes, e que muitas vezes mascaram interesses subliminares de divulgação de produtos bancários ou um superficialismo conformista e escravizante.
Existe um velho e verdadeiro ditado que diz: “só podemos ensinar com convicção aquilo que aprendemos e praticamos com satisfação” – assim é a verdadeira ciência humana da Educação Financeira. Sim, você leu corretamente, a Educação Financeira autêntica é uma ciência humana, trabalha a sustentabilidade e equilíbrio do comportamento e dos hábitos de indivíduos e suas famílias!
Ao longo de nossa história até hoje, as gerações que nos precedem não tiveram quaisquer ensinamentos estruturados, massivos e baseados em métodos de resultado comprovado, sobre como lidar com recursos materiais, principalmente “Dinheiro”, sem tabus, sem o jugo do cruel jogo de aparências da sociedade. Muitos ainda acreditam, e talvez esse seja o caso da professora em cuja postura se baseia a reportagem citada no blog, que essa ciência é exata e tem seu foco nos números, cálculos e até planilhas. Visões reducionistas são sempre armadilhas ardilosas.
Não basta só respeitar as opiniões de cada um, em especial as de nossos professores, é também nossa obrigação ampliar e lançar luz no horizonte ao qual estão voltados esses holofotes, para que todos tenham a oportunidade de refletir mais profunda e criticamente sobre alguns temas, antes de definirem sua posição. Convido não só professores, mas todos que realmente desejem desfrutar do saudável exercício de escutar de forma democrática e desarmada, com a alma aberta, opiniões mais técnicas, especialmente as que não coincidam com as suas. Como especialista, Pós Doctor em Educação Financeira, me predisponho a compartilhar o sucesso dos resultados conseguidos exclusivamente com uma metodologia de embasamento científico, vivencial e academicamente chancelado. Tenho certeza que sua opinião contará com maior perspectiva.
Ao ler a matéria, por outro lado, não tiro razão de algumas das alegações da professora contrária à adoção nas escolas do que ela acredita ser Educação Financeira. Estamos sim num país capitalista, consumista e de milhões de endividados e inadimplentes, as pesquisas constatam o crescimento desses índices. Pergunto se devemos então continuar fazendo o que estivemos fazendo sempre e seguir nos conformando com o que temos obtido, e deixamos então tudo como está. Ou devemos salvar novas gerações? A resposta está na abordagem motivadora de uma educação financeira que permita aos jovens construir projetos de vida rumo a uma história de crescimento enquanto ser humano realizador de sonhos próprios, familiares e comunitários.
Como agentes transformadores, tanto professores como profissionais da verdadeira educação financeira compartilham a esperança de um dia ver crianças e adolescentes aprenderem, com aplicação prática, ensinamentos que construam um futuro com famílias fortes e sustentáveis financeiramente, capazes de transformar nosso grande Brasil em uma das maiores potências do planeta.
A Educação Financeira construtiva, transformadora, tem que ser praticada por todos nós em todas as fases de nossas vidas e tem relação direta com uma questão que vai muito além de ideologias, ela proporciona a tão necessária independência financeira sustentável e equilibrada, a curto, a médio e longo prazos.
Com planejamento, podemos construir um futuro com perspectiva. Quem não sonha com isso? Mas alcançar esse objetivo requer ensinamentos de forma estruturada e com metodologia apropriada. Somente uma educação financeira assim estabelece uma sociedade mais consciente e coerente, entendendo o processo de consumo e combatendo de forma justa excessos e desperdícios. Esse é o caminho para uma sociedade melhor.
Uma pesquisa feita pela Unicamp, em parceria com o Instituto Axxus e a ABEFIN, comprova os benefícios conquistados em escolas que implantaram a Educação Financeira de verdade. Os resultados mostram que 100% das crianças e jovens que recebem educação financeira na escola, participam das discussões relacionadas às finanças da família em casa e 71% dos alunos que têm aulas sobre o tema nas escolas ajudam os pais a fazerem compras conscientes. A pesquisa foi realizada com 750 pais/responsáveis de cinco capitais brasileiras, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Vitória.
Assim, diante de um debate como esse, é importante que os profissionais da autêntica educação financeira se posicionem, mostrem que uma educação financeira genuína é bem diferente das finanças pessoais, estas últimas até às vezes até manipuladoras. A Educação Financeira com metodologia séria promove transformação, sem ter como base principal a matemática ou números, mas sim comportamento e hábitos que combatem o pior dos efeitos do capitalismo: consumismo. Educação Financeira de verdade é alicerce até mesmo para uma vida adulta com finanças pessoais consistentes. Nesse sentido, faço também minha a preocupação dessa professora: devemos ter muito critério na escolha de uma educação financeira que não seja fake, como as notícias que tanto andam prejudicando o mundo.
Para convidar a uma reflexão mais profunda que se estenda após o final da leitura desse texto, reproduzo aqui citação de um de meus livros, o Terapia financeira: “Se a partir de hoje você não mais recebesse seu ganho mensal, por quanto tempo você conseguiria manter seu atual padrão de vida?”
Seja qual for a resposta pessoal na qual cada um de vocês esteja pensando agora, tenho certeza que imaginam qual seria a resposta da maioria das famílias do mundo, especialmente neste momento de calamidade pandêmica como o que estamos vivendo agora. A exceção otimista estará somente nas respostas das famílias que já conheciam o poder de manter uma reserva estratégica de longa duração capaz de blindar a constância do ritmo de construção de seus sonhos, ou seja, as famílias que já tinham educação financeira real.
Com isso, quero registrar que hoje o ensino de Educação Financeira genuína é sim uma atividade essencial à prosperidade e saúde financeira, mental e emocional de famílias de todo mundo! Não me baseio em “opiniômetro”, e sim em conhecimento constatado ao formar, desde 2009, grande quantidade de professores em educação financeira. Nessa trajetória já foram mais de 1 milhão de alunos e suas famílias beneficiados desde o ensino infantil, fundamental e ensino médio também.