Até 2020, o ano da pandemia, que transformou a economia brasileira, cerca de 60% dos veículos, novos e usados, eram vendidos via financiamento. Nos últimos anos, no entanto, boa parte das pessoas que precisaram de crédito para comprar um carro acabaram ficando a pé.
Para se ter uma ideia, em 2022, segundo dados da Anfavea (a associação das montadoras), o número de financiamentos caiu para 36,2% das vendas, mas não porque a situação econômica do país estava boa – pelo contrário, muitos tiveram de desistir da compra por falta de recursos.
Com a redução gradual da taxa de juros básica, a Selic, que atualmente está em 10,5% ao ano, o cenário foi mudando com o passar dos meses. Atualmente, de acordo com dados da B3, as vendas financiadas de veículos em abril – último mês analisado – somaram 611 mil unidades, entre novos e usados. É o mês com mais veículos financiados desde dezembro de 2014.
Volta do crédito faz vendas subirem
Na categoria de carros de passeio, a alta foi de 42,7% ante abril de 2023 e de 8,5% na comparação com março. O aumento na oferta de crédito está levando a uma alta nas vendas. No acumulado do ano, houve crescimento 16,63% relativo a carros zero-quilômetro, chegando a 189,5 mil automóveis e comerciais leves vendidos. Entre os usados, o crescimento é de 6,6%, com mais de 6 milhões de unidades comercializadas.
“Embora o momento seja de cautela, em razão das dificuldades enfrentadas no Rio Grande do Sul, cujos prejuízos das enchentes ainda estão sendo contabilizados, as condições favoráveis do crédito mantiveram o mercado aquecido no restante do país, fazendo com que o mercado total continue apontando viés positivo”, afirma Andreta Jr., presidente da Fenabrave, a federação dos revendedores de veículos.
O consultor automotivo Milad Kalume explica que três fatores impactam o aumento das vendas de veículos: o preço, a taxa de juros e a disponibilidade de crédito.
“Como o valor do veículo é algo que está em alta nos últimos anos, a mudança está no crédito. Os juros estão caindo e isso aumenta o número de pessoas aptas a comprar um carro. Aqueles que ‘bateram na trave’ para ter financiamento aprovado alguns meses atrás, agora podem conseguir”, explica o especialista.
De acordo com Kalume, o cenário deve melhorar ainda mais no segundo semestre, quando – via de regra – existe uma maior abertura de crédito no país e, consequentemente, maior concorrência entre as montadoras pelos clientes, com condições diferenciadas para compra.
Como está a taxa real de juros para financiar veículo.
Atualmente, de acordo com dados da B3, 4,8% dos contratos de financiamento para pessoa física não estão sendo pagos há mais de 90 dias.
Portanto, o que uma instituição financeira busca na hora de conceder crédito é segurança. “A pessoa precisa ter como comprovar renda, moradia fixa, a necessidade do veículo. É levado em consideração o ano do veículo e feita uma análise do histórico do cliente em relação à inadimplência e de sua pontuação em relação aos créditos que utiliza”, explica Cintia Senna, educadora financeira da DSOP, empresa especializada em educação financeira.
Para aumentar as chances de ter acesso ao crédito, a dica é buscar uma vida financeira mais organizada e pleitear um financiamento com a consciência de que ele cabe no orçamento.
“Isso mostra para a instituição que há planejamento e organização. É importante saber quanto pode comprometer do seu ganho, de fato, e não somente o que a instituição põe como limite, que são os 30%”, diz a especialista.
Para fechar um bom negócio, antes de assinar o contrato, é importante entender quanto está sendo cobrado de juros, quantas parcelas deverão ser pagas e, principalmente, o custo efetivo total da transação. De acordo com o próprio Banco Central, os juros do financiamento automotivo podem variar entre 2,92% ao ano até 55,63% ao ano, a depender da instituição. A média, no entanto, é de 25,43% ao ano, de acordo com a B3.
Em uma negociação “ruim”, o consumidor pode acabar pagando quase três vezes o valor financiado.
Passo a passo para financiar seu carro
- Antes de buscar financiamento, avalie sua capacidade de pagamento. Calcule seu orçamento mensal e verifique se as prestações cabem nele sem comprometer o sustento da família;
- Mantenha um histórico de crédito saudável: os credores confiam em históricos de crédito sólidos. Certifique-se de manter suas contas em dia, evitar atrasos e liquidar dívidas em aberto;
- Pesquise e compare ofertas: não se limite à primeira instituição que encontrar. Pesquise e compare ofertas de diferentes bancos para buscar a melhor taxa e condições que se adequem às suas necessidades;
- Prepare uma entrada: oferecer uma entrada maior pode aumentar suas chances de aprovação e reduzir o valor total financiado;
- Esteja preparado para comprovar sua renda: os credores exigem isso. Tenha documentação adequada, como holerites, declarações de imposto de renda e extratos bancários, prontos para apresentar;
- Esteja ciente das cláusulas do contrato: leia atentamente os termos e condições do contrato de financiamento. Confira todas as cláusulas, taxas e penalidades;
- Evite acumular dívidas adicionais: durante o processo de financiamento, não adquirira novas dívidas que possam comprometer sua capacidade de pagamento das prestações.
Fonte: Paula Gama – UOL