O programa Desenrola Brasil está prestes a entrar em uma nova fase, que começará nas próximas semanas. Isso significa que em breve haverá uma oportunidade para que as pessoas possam renegociar suas dívidas sob as condições oferecidas por este programa.
Para participar desta nova fase, é necessário atender a certos critérios. As pessoas que podem se beneficiar são aquelas com renda de até 2 salários mínimos ou aquelas que estão inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Além disso, suas dívidas não devem exceder o valor de R$ 5 mil.
Para aproveitar a oportunidade de renegociar as dívidas através do programa Desenrola Brasil, os interessados são obrigados a se inscrever no gov . br , um sistema governamental que serve como uma plataforma para vários serviços públicos online. Esta inscrição é importante porque ajuda a comprovar a identidade do cidadão, tornando o processo mais seguro e confiável.
No contexto do programa Desenrola Brasil, os devedores precisarão habilitar contas de nível Prata ou Ouro no gov . br . Isso implica em atender a certos requisitos ou critérios adicionais para garantir que apenas pessoas elegíveis tenham acesso ao programa. Essa medida visa a segurança e a eficácia do processo de renegociação.
O Ministério da Fazenda anunciou que 924 credores voluntariamente aderiram a essa fase, representando 86% das dívidas nessa faixa de valor em atraso no país. O prazo de adesão encerrou na terça-feira e agora os débitos passarão por filtragem, priorizando
Os débitos serão agrupados por tipo, e os credores que oferecerem os maiores descontos serão escolhidos para receber cerca de R$ 7,5 bilhões do Fundo Garantidor de Operações (FGO) do Tesouro Nacional. O ministro da Fazenda estimou que os recursos do FGO poderiam cobrir até R$ 30 bilhões em dívidas, mas o montante renegociado pode ser maior.
Mesmo aqueles que não forem contemplados com a ajuda do FGO poderão renegociar na plataforma, porém com descontos menores. A notícia é ótima, mas mesmo ao fazer esse tipo de negociação, se não tiver conhecimento de detalhes o funcionamento do sistema é uma das faces do comportamento de risco financeiro mais comum na cultura de endividamento.
É importante que os consumidores saibam calcular como podem negociar e os impactos de financiamentos que as parcelas dessas negociações terão em seus orçamentos, antes de fechar acordos, pois, na maioria dos casos, a solução é momentânea e as pessoas não conseguem arcar com os acordos firmados.
Caminhos para mudança
A solução para sair dessa situação é fazer um levantamento detalhado de todas as dívidas em atrasos, priorizando as que possuem bens de valor como garantia e evitar o corte de serviços indispensáveis. Deve-se também priorizar as dívidas que têm as taxas de juros mais altas. Provavelmente serão as dos empréstimos adquiridos junto ao sistema financeiro.
Importante não fechar acordos que não se possa cumprir, se não houver possibilidade de acordo com a instituição financeira ou se a parcela negociada não couber no orçamento, será melhor poupar para que, quando for procurado pelas empresas de recuperação de crédito contratadas pelos bancos, tenha melhores condições de negociar a quitação em valores menores.
Enfim, por mais que acredite que chegou ao fundo do poço, sempre haverá alternativas; para isso, basta ter perseverança e criar uma estratégia para reverter a situação. Nunca se esquecendo, é claro, de projetar os sonhos para o futuro.
Para ajudar as famílias nessa situação, veja abaixo 7 passos preparados para sair das dívidas definitivamente:
1- Colocar na ponta do lápis todas as dívidas que possuir, separando as que correspondem a serviços e produtos de necessidade básica, que não podem ser cortados (como água, energia elétrica, gás e aluguel) e as que sofrem juros mais altos (como cartão de crédito e cheque especial), considerando essas como prioridade para pagamento. Antes de sair se enrolando para pagar, faça um diagnóstico financeiro, para saber como pode diminuir as despesas mensais, fazendo sobrar dinheiro para pagar as dívidas em atraso;
2- Anote todos os gastos que tiver, separando por tipo de despesa. Isso inclui gastos “pequenos”, que podem até ser considerado menos importantes, como gorjetas e guloseimas, pois no final do período será possível compreender de que forma, efetivamente, seu dinheiro está sendo gasto. Reflita sobre os hábitos e comportamentos que o levaram a chegar nessa situação, assim saberá o que deve mudar e quais gastos irá reduzir ou eliminar;
3- Tenha em mente que só se deve negociar uma dívida quando se tem condições de fazer isso, ou seja, após se planejar, pois um passo precipitado pode até piorar a situação. Portanto, só se deve procurar um credor, quando já souber quanto terá disponível mensalmente para pagar e, então, poder negociar;
4- Trocar uma dívida pela outra nem sempre é a melhor alternativa. É claro que o programa Desenrola Brasil, por exemplo, oferece juros baixos em comparação ao cartão de crédito, cheque especial e financiamentos, contudo, é preciso entender o que estão relacionados e esses acordos, pois eles podem desencadear novos endividamentos e problemas ainda maiores, virando uma bola de neve;
5- Para não agravar a situação, antes de realizar qualquer compra, se faça algumas perguntas como “Eu realmente preciso desse produto?”, “O que ele vai trazer de benefício para a minha vida?”, “Estou comprando por necessidade real ou movido por outro sentimento, como carência, baixa autoestima ou influência de terceiros?”. Ao fazer isso, terá uma grande surpresa sobre a quantidade de coisas adquirida apenas por impulsividade;
6- Em momentos de crise financeira, que são passageiros, é importante resgatar sonhos, objetivos que realmente importam e que farão a pessoa ter ainda mais motivos para “dar a volta por cima”. É preciso relacionar no mínimo três sonhos: um de curto prazo (a ser realizado em até um ano), um de médio prazo (entre um a dez anos) e outro de longo prazo (acima de dez anos), sendo que um deles deve ser o de sair das dívidas;
7- Com os números do diagnóstico financeiro em mãos, é possível conhecer a sua força de poupança após os cortes para realizar o sonho de sair das dívidas sem que tenha que fazer outra dívida. Mês após mês, é preciso aplicar esse dinheiro em um investimento que seja coerente ao tipo de objetivo (prazo) e ao perfil do investidor. Caso tenha dificuldade para investir, é válido consultar um especialista.
Reinaldo Domingos é PhD em educação financeira, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (Abefin) e da DSOP Educação Financeira, autor do livro Terapia Financeira e outras obras relacionadas à educação financeira.