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Não consegue pagar as parcelas do financiamento imobiliário? Veja o que fazer

Por: Eduarda Esteves / Site: Elas Que Lucrem

A casa própria é o sonho de 87% dos brasileiros. O índice foi revelado por uma pesquisa feita pelo QuintoAndar em parceria com o Instituto Datafolha, que constatou, ainda, que a prioridade aparece à frente da estabilidade financeira, da religião e até dos filhos.

No Brasil, uma das principais formas de realizar esse sonho é pelo financiamento imobiliário, já que, para a imensa maioria da população, é impossível fazer uma compra como essa à vista. A modalidade é tão comum que só no ano passado movimentou cerca de R$ 255 bilhões, um recorde na série histórica da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Apesar desse crescimento, o endividamento das famílias brasileiras também bateu recorde em 2021, com uma média de 70,9%. Na comparação com 2020, o crescimento foi de 4,4%, o maior registrado nos últimos 11 anos, quando começou a série histórica. Os números são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O levantamento também mostrou que, das categorias de dívidas, o cartão de crédito aparece disparado na frente, com 82,6% dos entrevistados adeptos do uso. Na sequência estão os carnês (18,1%), o financiamento do carro (11,6%) e o financiamento do imóvel (9,1%).

Neste cenário, onde o financiamento imobiliário representa a principal dívida dos brasileiros ao mesmo tempo em que o endividamento atinge níveis alarmantes, a economista Larissa Brioso, educadora financeira da plataforma de finanças pessoais Mobills, explica que existem caminhos para resolver a inadimplência.

Segundo ela, cada instituição financeira possui sua própria política de negociação em caso de atraso na parcela do financiamento imobiliário. “Por isso, é importante buscar informações com a credora e até mesmo conhecer outras possibilidades que oferecem melhores condições de pagamento, como a portabilidade do financiamento para outra empresa.”

Renegocie a dívida para não perder o imóvel

Larissa diz que, no geral, o atraso no pagamento gera multa e juros referentes aos dias de inadimplência, além da possibilidade de inclusão das informações do devedor em birôs de crédito, como o Serasa e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Com base na legislação brasileira, depois de atrasar três parcelas seguidas, o devedor pode ser acionado pela instituição financeira, interessada em tomar o imóvel. No entanto, o mais comum é que elas analisem propostas de negociação ou quitação da dívida.

Cintia Senna, educadora financeira da Dsop, organização dedicada à disseminação da educação financeira, afirma que o importante é negociar as parcelas, principalmente para não perder o imóvel. “Sempre existem caminhos e alternativas para a regularização. Se houve atraso na parcela, entre em contato com a instituição financeira e verifique quais são as formas que ela aceita de negociação.”

Veja, a  seguir, as principais opções oferecidas pelas instituições de financiamento, segundo a especialista:

Pausa nas parcelas 

“Regularize o que está em atraso e solicite que, durante alguns meses, você não precise quitar as parcelas. Com isso, você ganha fôlego para avaliar melhor a situação e buscar novas possibilidades, sem o receio de perder o imóvel. Dependendo da instituição, é possível pausar até 12 prestações.”

Alteração da data de vencimento

“Às vezes, o atraso é muito mais pela organização do que pela falta de renda. Com isso, uma possibilidade é verificar a melhor opção de pagamento e definir uma data que ajude nesse processo, para evitar atrasos, multas e juros.”

Valor da prestação 

“É possível negociar o valor de algumas prestações, para que elas se tornem menores durante alguns meses.”

De acordo com Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo, empresa especializada na renegociação de dívidas, diferentemente do cartão de crédito – que impõe juros altíssimos no caso de falta de pagamento -, o financiamento imobiliário apresenta um cenário mais delicado.

“A inadimplência pode custar a casa própria. Isso porque o financiamento imobiliário tradicional consiste em parcelar o valor do imóvel usando ele mesmo como garantia para o banco. Ou seja: deixou de pagar, a instituição financeira tem o direito de recuperá-lo. Até o pagamento da última parcela, o imóvel não é seu, é 100% do banco. Então, para evitar que isso aconteça, o primeiro passo é entrar em contato com a entidade que ofereceu o empréstimo, explicar a situação e verificar quais são as condições propostas”, diz Bruna. 

Parcelas podem ser congeladas

A economista Larissa Brioso lembra que algumas instituições passaram a permitir o congelamento de parcelas do financiamento em determinados casos, como para pessoas físicas que fecharam contrato e que estão com o pagamento em dia ou em atraso de, no máximo, 180 dias. “Mas é preciso entender que o congelamento de parcelas não é o mesmo que uma negociação da dívida. No caso dessa pausa no pagamento, o devedor continua com o débito, que é recalculado e corrigido durante o período. Avalie se realmente há necessidade do congelamento. Em caso positivo, a solicitação deve ser feita de acordo com o passo a passo e regras da instituição, geralmente em canais online, como site ou aplicativo.”

Cintia avalia que, conforme a instituição e o número de prestações já quitadas, é possível ficar até 12 meses sem pagar as parcelas. “Esse valor vai, então, compor o saldo devedor, sem alterar o número de prestações. É uma excelente estratégia em momentos de necessidade de ajustes no orçamento e elimina o risco de perda do imóvel. As instituições estão bem abertas para essa possibilidade”, alerta.

Taxas de juros menores

A especialista detalha que uma das formas de reduzir as taxas de juros do financiamento é por meio da portabilidade de crédito, modalidade na qual se busca condições melhores em outras instituições financeiras. Ao encontrar, é possível transferir a dívida de uma instituição financeira para outra, impacto que será sentido imediatamente, mês a mês.

“Outra possibilidade é negociar direto com a instituição onde você tem contrato. Esclarecer o momento vivido e buscar alternativas mais flexíveis para sua realidade. A depender da modalidade do seu financiamento, é possível trocar a forma de cobrança. É sempre importante observar esses movimentos, mesmo que o tomador de crédito esteja conseguindo pagar em dia. Tivemos excelentes oportunidades quando a taxa básica de juros estava em 2% ao ano”, diz Cintia. 

Para Bruna Allemann, muitas pessoas financiam um imóvel por 30 anos e pagam em apenas 10, uma vez que conseguem antecipar o pagamento e ganham bons descontos por isso. “Muita gente pega financiamento imobiliário para ir diluindo o valor ao longo de 30 anos e não impactar tanto a renda familiar. Mas, de tempos em tempos, junta dinheiro de uma renda extra, bônus da empresa, algum bem vendido e quita um valor a mais do financiamento. Isso ajuda, já que o banco recalcula os valores e concede um desconto nos juros pela antecipação.”

Larissa lembra que, para quem tem condições de arcar com parcelas maiores, pode ser interessante aderir ao sistema SAC, que tem parcelas decrescentes. “Nesse modelo, é possível economizar nos juros, tendo em vista a maior amortização da dívida no início. Em determinados casos, vale até contratar outros produtos e serviços do banco para conseguir melhores condições de pagamento do financiamento. Fazer a portabilidade da dívida pode ser uma boa alternativa também quando outra instituição financeira oferece taxas e parcelas mais atraentes.”

Evitar a inadimplência precisa ser prioridade

Cintia diz que a primeira alternativa para evitar a inadimplência é ter reservas financeiras. “Sem isso, ficamos muito vulneráveis a qualquer situação externa que aconteça. Vale considerar sempre quanto tempo podemos aguentar os compromissos assumidos caso fiquemos sem renda”, diz.

Para a educadora financeira, uma outra estratégia é, antes de fazer qualquer financiamento imobiliário, analisar todo o contexto, não apenas o momento atual, mas o futuro, e considerar a utilização dos instrumentos financeiros à disposição, como pausa no financiamento ou portabilidade de crédito (redução de taxa de juros). “Busque caminhos oferecidos antes de o atraso acontecer, e tenha sempre um orçamento financeiro para que possa visualizar as entradas e saídas de dinheiro. A prioridade são as prestações e dívidas, antes de fazer novos gastos.”

A especialista lembra também que, se você não tiver condições, não antecipe prestações do financiamento. “Use esse dinheiro para fazer reservas financeiras. Aprenda a ficar com dinheiro, não tenha alergia dele. Quando antecipamos, estamos deixando de ter dinheiro hoje e ficamos sujeitos a qualquer oscilação no cotidiano. Com isso, podemos ficar inadimplentes pela ansiedade.” 

Bruna recomenda que, para não cair em ciladas, as dicas são revisar os custos, não assumir dívidas maiores do que pode pagar e não viver acima das possibilidades. “Pechinche, negocie preços e reveja os custos fixos, como assinaturas, telefone e internet. Sempre tem espaço para uma economia. Pesquise antes de comprar algo e guarde sempre o valor economizado.”

Larissa avalia que manter uma boa organização financeira e evitar o comprometimento de boa parte da renda são algumas das principais formas de conseguir manter a tranquilidade no que diz respeito ao dinheiro. “Quando o assunto é financiamento não é diferente. É preciso se planejar para esse compromisso de longo prazo, analisar quanto da renda pode ser comprometida com a dívida sem ficar no aperto, dedicar-se à construção de uma reserva para imprevistos e garantir, ao máximo, uma estabilidade ou aumento na renda a fim de honrar com os compromissos.”

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