Livros educativos, cofrinhos e jogos de tabuleiro podem ajudar a introduzir conceitos para crianças.
A infância é uma fase marcada por descobertas e aprendizados, quando as crianças têm o primeiro contato com diferentes assuntos e criam hábitos que podem acompanhá-las por toda a vida. Para diversos órgãos ligados à educação financeira, também é o momento para iniciar o diálogo e incorporar as primeiras práticas sobre o assunto.
Estudo realizado pelo professor e pesquisador da Universidade Autônoma de Madrid, Juan Delval, mostra que, durante a infância, o cérebro está em formação e, por isso, propício para o aprendizado de hábitos e atitudes conscientes sobre a vida financeira. Usar esse potencial é um modo de formar adultos com capacidade para tomar decisões equilibradas.
Questões relacionadas às finanças podem ser introduzidas na vida das crianças de forma fácil, prática e divertida. Os pais podem recorrer às brincadeiras, como as que simulam uma lojinha, um mercadinho ou tipo de comércio, para ensinar sobre a relação do dinheiro na compra e venda de produtos.
Adotar o uso de cofrinhos é uma maneira lúdica de explicar sobre a importância de poupar. As conversas devem ser abertas, usando uma linguagem acessível para criança e respeitando a sua maturidade. Assim, é possível abordar desde temas mais simples, como de onde vem o dinheiro da família e como economizar, até introduzir outros conceitos, como orçamento familiar, poupança e investimento.
Para isso, especialistas destacam que os pais e responsáveis também devem ter a preocupação de se informarem corretamente sobre o assunto. Há diferentes órgãos, como a Associação Brasileira de Profissionais da Educação Financeira (Abefin), a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Bolsa de Valores (B3), a Serasa Experian e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que disponibilizam conteúdos gratuitos sobre educação financeira.
Os materiais disponíveis abrangem orientações para os consumidores eliminarem as dívidas e evitarem o superendividamento, como fazer o planejamento financeiro para organizar o orçamento familiar, dicas para economizar e, também, informações para começar investir, com detalhes sobre produtos de renda fixa e investimento renda variável.
Mas o que é educação financeira?
A educação financeira é uma ciência humana que busca a autonomia financeira, fundamentada por uma metodologia baseada no comportamento, tendo como objetivo construir hábitos saudáveis que proporcionem mais equilíbrio para a vida financeira de um indivíduo, conforme a Abefin.
Quando os pais introduzem o tema na rotina das crianças ainda em idade escolar, eles ajudam a criar jovens e adultos que sabem lidar melhor com o próprio dinheiro e que não se endividem com facilidade.
Reconhecendo a importância do conhecimento na área, a educação financeira foi incluída pelo Ministério da Educação (MEC) na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento oficial que determina as competências, habilidades e aprendizagens consideradas essenciais para os alunos da Rede Básica de Ensino no país.
Como deve ser o ensino para as crianças
A introdução sobre a educação financeira na infância pode ser feita de diferentes formas. Os pais podem abordar assuntos relacionados ao dinheiro em diversos momentos do dia. O princípio básico desse conceito é trabalhar com a realidade e a sinceridade.
Por esse motivo, a família deve começar a introdução por meio de uma conversa franca, abordando questões como de onde vem o dinheiro, o que é caro para o orçamento familiar e quais são os gastos supérfluos, por exemplo.
A dica dada pelo MEC e pela Abefin é conversar de forma descontraída e apostar em métodos lúdicos como livros, cofrinhos e brincadeiras. Além disso, é fundamental que os pais mantenham-se abertos para tirar dúvidas sobre tudo que circunda esse universo, como dívidas e investimentos.
Comece por uma conversa
Antes de adotar qualquer método, os pais precisam primeiro introduzir o assunto na vida das crianças. A recomendação é apresentar, gradualmente, o valor das coisas de forma direta e fácil. A melhor forma de fazer isso é numa ida ao supermercado ou uma loja com uma determinada quantia em dinheiro para mostrar para elas que, com aquele valor, é possível comprar alguns itens.
Nesse momento, os pequenos irão entender que é preciso de dinheiro para ter algumas coisas. Além disso, os pais também precisam explicar que o valor para os itens pode variar. Assim, eles aprendem que existem produtos que são caros e outros que são mais baratos.
Também é importante explicar de onde vem o dinheiro, que é resultado do trabalho.
Conforme as crianças forem crescendo e entendendo melhor esses princípios básicos, as famílias podem avançar na conversa. É possível chamá-las para ajudar no planejamento financeiro mensal e aproveitar para mostrar como são administradas as despesas da casa.
Nesse momento, também é possível explicar sobre o conceito de reserva de emergência, a importância do hábito de poupar e o papel dos investimentos para a realização de projetos futuros.
Aposte em livros educativos
As crianças já alfabetizadas também podem aprender com os livros educativos. Conforme explica a Abefin, a estratégia é uma boa forma de introduzir conceitos e hábitos sobre a educação financeira, além de incentivar a leitura. Há diferentes obras que trazem o assunto de forma divertida, entre elas estão “Como se fosse dinheiro”, de Ruth Rocha; “O Pé de Meia Mágico”, de Álvaro Modernell; “Almanaque Maluquinho – Pra que Dinheiro?”, de Ziraldo; “Dinheiro Compra Tudo? Educação Financeira para Crianças”, de Cássia D’Aquino; e “O Menino e o Dinheiro”, de Reinaldo Domingos.
Estimule as crianças a guardarem dinheiro
Após o primeiro contato com o universo financeiro, os pais podem também introduzir hábitos no dia a dia dos pequenos. Algumas famílias oferecem mesadas para as crianças, outras criam um sistema de recompensas para boas notas na escola.
A escolha sobre dar dinheiro pode variar, mas uma regra deve ser geral: explicar sobre a importância de poupar. Para isso, os pais e responsáveis podem ajudar as crianças a estabelecerem metas de curto e longo prazo para o uso da quantia recebida, como comprar um novo jogo ou ir ao cinema. Dessa forma, é possível explicar a relação entre poupar para alcançar as metas desejadas.
Brincadeiras e jogos são bem-vindos
O aprendizado durante as brincadeiras é uma maneira de envolver as crianças com o assunto. Conforme explica a Abefin, os jogos possibilitam conscientizar sobre a necessidade de uma vida financeira organizada e são um passatempo com a família e os amigos.
Um dos mais conhecidos é o “Banco Imobiliário”, jogo de tabuleiro em que os participantes precisam fazer negociações de compra e venda de propriedades como hotéis, casas e empresas. Ganha o jogo quem acabar com mais aquisições e não falir.
Outra opção é “O pequeno empresário”, que estimula uma visão empreendedora. Os jogadores aprendem como funciona o dia a dia do empreendedor e compreendem a importância de juntar dinheiro para realizar objetivos.