Especialistas dão dicas de como remunerar as crianças e adolescentes de forma a impulsionar a educação financeira.
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
Está chegando a volta às aulas e com ela as necessidades do dia a dia dos filhos: o lanche, o material escolar, o uniforme e os gastos extras para as atividades escolares e o lazer. Mas como gerenciar esses gastos de crianças e adolescentes.
Trata-se de um tema que ainda gera muita dúvida em pais e mães. Afinal, é melhor dar uma mesada ou uma semanada? Qual valor? Como garantir uma boa educação financeira para os filhos lidarem com aquele dinheiro? E para quem ainda não adota, como começar a deixar o dinheiro nas mãos dos filhos? A seguir, confira dicas de especialistas:
Mesada ou semanada?
Para definir entre uma e outra opção, os pais precisam levar em conta alguns fatores. Segundo o educador financeiro Thiago Martello, diretor da Martello EF e especialista em investimentos pela Anbima, o primeiro critério é o nível de maturidade da criança e o seu entendimento da temporalidade.
“Uma criança muito pequena, de dois anos, não sabe quanto dura um mês, um ano. Para ela, é melhor semanada. Já uma criança mais velha com mais noção de tempo, que já sabe quanto dura um mês, aí é mesada”, resume o educador financeiro.
Para quem está dando o pontapé inicial na prática de remunerar os filhos, a semanada pode servir como um primeiro passo antes de evoluir para a mesada, avalia Cíntia Senna, mestre em Educação Financeira pela Florida Christian University (FCU) e professora na Universidade do Oeste Paulista (Unoeste).
“Para a família que nunca fez esse movimento, pode começar com a semanada, para ver se aquele filho tem um controle, se gasta tudo no primeiro dia, se consegue trabalhar com aquele recurso a semana toda. Depois, com a evolução dessa semanada, pode começar com a mesada, para que a criança ou adolescente possa fazer essa administração financeira por mais tempo”, recomenda Senna.
Quanto pagar de mesada ou semanada?
O valor e a forma de remunerar os filhos vai depender muito do objetivo dos pais com esse instrumento e da própria realidade da família. Mas, segundo a educadora financeira Cíntia Senna, as famílias podem aproveitar este início de ano para aplicar uma técnica conhecida como diagnóstico financeiro. Ela consiste em observar, no período de um mês, quais foram as vezes que os filhos pediram dinheiro, para quais objetivos, e qual a quantia total que foi gasta. Os pais podem definir a mesada com base neste valor, mas com numa condição: metade no bolso dos filhos, para que gastem, e a outra metade para uma poupança, com objetivos de curto, médio e longo prazo.
“Com isso, os pais vão ensinar que do que a criança recebe uma parte é para gastar e outra é para guardar para aqueles desejos que demandam um pouco mais de tempo”, explica.
O educador financeiro Thiago Martello avalia que, para crianças de menor idade, é importante pagar um valor cheio de semanada, mas que os pais continuem custeando outras necessidades. Conforme for chegando perto da adolescência, é importante dar a mesada e trazer algumas responsabilidades junto.
Ele conta o caso de um filho que ficava muito tempo no banho. “Aí, o pai deu a conta de luz para ele pagar. Ou seja, se ele colaborasse com a economia na conta de luz, sobraria mais dinheiro da mesada no bolso dele. Mas se ele continuasse gastando muita energia, sobraria menos”, diz Martello.
No livro “Mesada não é só dinheiro”, da Editora DSOP, o educador financeiro Reinaldo Domingues lista oito tipos de mesadas que podem ser aplicadas às crianças. O caso do filho que ganha ao economizar na conta de luz seria uma mesada econômica. Mas há também a mesada financeira, que é a mais comum, a mesada voluntária, mesada de terceiros, mesada empreendedora, mesada ecológica, mesada de troca e mesada social.
A importância do dinheiro vivo
Hoje é difícil, principalmente entre os mais jovens, encontrar alguém com o hábito de andar com dinheiro vivo no bolso. O Pix e os cartões têm substituído cada vez mais o dinheiro físico. Mas, para quem está dando os primeiros passos na educação financeira, especialistas são unânimes em ressaltar a importância da moeda física.
“Nessa era em que tudo é eletrônico, a gente acaba não percebendo o que está comprando, porque está distante de nós. Como a criança está aprendendo e se desenvolvendo, ela precisa ter esse contato com o físico, ver esse dinheiro, pegar nele, usar para entender como funciona. Não pode ir para a esfera digital sem aprender a prática do físico”, alerta Cíntia Senna.
Nesse sentido, o ideal é utilizar a ferramenta do cartão de débito pré-pago apenas para crianças com mais maturidade no uso do dinheiro. Isso pode, inclusive, servir para ensinar a utilizar de maneira mais adequada o cartão de crédito lá na frente. Afinal, o cartão pré-pago nada mais é do que um cartão com um limite de dinheiro que pode ser gasto, de acordo com o quanto os pais colocarem lá.
Mas, ainda que se utilize um cartão pré-pago ou até um cartão de crédito adicional ao da família para a criança, com limite travado, ainda é importante que os pequenos observem o funcionamento. Ou seja, vejam o dinheiro sair da carteira delas e ir para o pagamento da fatura ou recarga do cartão pré-pago.
“No começo disso tudo, tem que acontecer um ato específico, um evento para que a criança enxergue o dinheiro saindo para pagar a fatura do cartão. Ela precisa entender que o cartão de crédito é um empréstimo sem juros de 30 dias, e que o cartão pré-pago tem um limite”, afirma Thiago Martello.