ABEFIN

NOSSO BLOG

Educação Financeira e aulas de reforço: o que especialistas acham das mudanças no currículo das escolas estaduais de SP

Uma nova grade curricular deve ser implementada para os alunos da rede estadual de ensino em SP já em 2024. A proposta sugere a inclusão de novas disciplinas na grade, como Educação Financeira e Orientação de Estudos. CRESCER conversou com especialistas para entender qual o impacto dessas alterações na prática

O governo do Estado de São Paulo anunciou que vai mudar a matriz curricular das escolas estaduais. A partir de 2024, os alunos do Ensino Fundamental II terão novas disciplinas na grade. Serão incluídas para as turmas as matérias de Educação Financeira e Orientação de Estudos. Em compensação, os estudantes terão menos aulas de Artes e de Projeto de Vida.

A decisão foi divulgada no Diário Oficial no último dia 17 de novembro. O documento traz algumas primeiras informações sobre essas novidades. Veja a seguir quais são as mudanças propostas:

Para alunos dos 6º e 7º anos

  • Nas escolas de meio período, passarão a ter duas (2) aulas por semana de Orientação de Estudos, para ajudar na recuperação de defasagens. Nas escolas de tempo integral, serão quatro (4) aulas por semana;
  • Passarão a ter duas (2) aulas por semana de Tecnologia e Inovação. Antes, tinham apenas uma (1) aula semanal.

Para alunos dos 8º e 9º anos

  • Passarão a ter duas aulas (2) por semana de Educação Financeira;
  • Passarão a ter duas (2) aulas por semana de Tecnologia e Inovação. Antes, tinham apenas uma (1) aula semanal;
  • Passarão a ter duas (2) aulas por semana de Orientação de Estudos, para ajudar na recuperação de defasagens;
  • Passarão a ter apenas uma (1) aula de Artes e de Projeto de Vida por semana. Antes, tinham duas (2).

Até agora, o governo não divulgou detalhes de como essas novidades serão implementadas na prática. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação disse que “as mudanças nos anos finais do Ensino Fundamental têm como principal objetivo a recuperação da defasagem educacional”.

O que dizem os especialistas

O governo de SP não aumentou a carga horária das crianças na escola. Na prática, o que a nova matriz curricular sugere é apenas usar o mesmo tempo que os alunos já passavam no colégio de uma forma diferente. Para dar espaço às novas disciplinas na grade, foi preciso diminuir o tempo gasto com outras matérias que já existiam. Os estudantes do Ensino Fundamental II só poderão ter aulas de Orientação de Estudos e Educação Financeira porque agora terão menos aulas de Artes e de Projeto de Vida.

“Enquanto educadora, não sou a favor de tirar aulas ou disciplinas para colocar outras no lugar. Sociologia e Artes, por exemplo, são disciplinas muito importantes para a formação do pensamento crítico das crianças”, explica a pedagoga Ana Rosa Vilches (SP).

Apesar disso, Ana Rosa também reconhece a importância de os jovens terem contato com assuntos de Educação Financeira dentro do colégio. “Os índices de endividamento entre os jovens são altíssimos. Há uma necessidade muito grande de que esses meninos aprendam a lidar com dinheiro. O estado de SP entendeu que essa é uma necessidade emergencial. Agora a questão é se isso será tratado nas escolas como uma ciência do comportamento, como deveria ser, e não apenas como uma aula sobre como investir”, diz a especialista, que também é doutora em Educação Financeira, diretora Administrativa da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN) e diretora Pedagógica e de Projetos Especiais da DSOP.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê que as escolas abordem assuntos que envolvem finanças e planejamento orçamentário, como taxa de juros, inflação, aplicações e impostos. Esses temas devem ser trabalhados de forma interdisciplinar e nas aulas de Matemática. O que o governo de SP propõe na nova matriz curricular é que exista uma disciplina para falar exclusivamente sobre isso.

A grande preocupação de especialistas como Ana Rosa Vilches é como serão conduzidas essas aulas. “Os professores precisam saber do que estão falando. Como vão poder ensinar sobre Educação Financeira se não vivem isso na prática? Eu acredito que haverá uma grande formação de professores, mas também precisamos pensar além: quem preparou o conteúdo e o material didático dessas aulas? Será que eles serão montados a partir de respaldos de especialistas em Educação Financeira?”, questiona.

Além da inclusão das aulas de Educação Financeira, a outra grande mudança foi a criação de uma disciplina para ajudar os alunos com possíveis “atrasos” de aprendizagem. Na prática, as aulas de Orientação de Estudos devem funcionar como uma espécie de aula de reforço.

Segundo a pedagoga Cláudia Maria da Cruz, especialista em pedagogia escolar, especialmente depois da pandemia, surgiu uma preocupação muito grande de as escolas se esforçarem para fazer um nivelamento e recuperar conteúdos que possam ter ficado para trás. “Muitos municípios, escolas e redes têm organizado oportunidades de reforço de aprendizagem para os alunos, seja no turno ou no contraturno. Normalmente, essas iniciativas são organizadas com base nas habilidades que deveriam ter sido desenvolvidas no ano anterior, principalmente em Língua Portuguesa e Matemática”, explica.

A mudança proposta pelo governo de SP foi justamente oferecer a possibilidade de os estudantes terem esse momento de orientação de estudos no horário padrão das aulas, sem que precisem voltar em outro turno ou passar mais tempo na escola. “Eu penso que qualquer uma dessas formas de organização das escolas é importante e pode atender necessidades individuais [dos alunos], porque às vezes a família não consegue levar no contraturno. Então, é fundamental pensar em outras possibilidades”, conclui Cláudia.

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Posts Recentes: